sexta-feira, 18 de julho de 2008

Educação

Reflexões sobre tendências Internacionais
da Educação Superior
Daniel Roedel*

Nos últimos anos temos verificado alterações significativas nas Instituições de Ensino Superior – IES, em âmbito mundial. A principal constatação é de que, submetida à forte competição em escala global, a educação superior está rapidamente incorporando as regras de negócio do ambiente capitalista, visando ao aumento da denominada competitividade. Dentre os aspectos desse mercado, merecem destaque:

• Tendências de Internacionalização – com o mundo cada vez mais interligado e sem fronteiras, a grande escala e os fornecedores corporativos se destacam na oferta da educação superior.

• Oportunidades pela Economia Baseada no Conhecimento – o conhecimento se torna rapidamente obsoleto, requerendo que a aprendizagem seja um processo permanente, o que favorece a oferta de programas de educação superior.

• Nova Governança – Novos Modelos de Gestão e de Financiamento – as novas pressões e demandas na educação superior estão vindo de múltiplas fontes. O ambiente competitivo da educação superior esgota os modos tradicionais de gestão e de financiamento, fazendo com que princípios de eficiência, eficácia, qualidade e de resultados, comuns à gestão das empresas, sejam gradativamente incorporados ao ambiente educacional.

• Educação à Distância (EaD) como ferramenta para a Competitividade – as novas tecnologias de informação e de comunicação permitem a realização da aprendizagem em qualquer lugar, a qualquer hora, além das fronteiras nacionais, favorecendo o atendimento das agendas sociais e as exigências do mercado.

• Garantia da Qualidade e Acreditação dos Programas Educacionais – a desregulamentação da legislação passa a ser fator essencial para o livre trânsito das relações institucionais, a captação de recursos e a formação de parcerias. A acreditação por parte de organismos nacionais e internacionais assume papel de destaque na legitimação dos cursos e das IES no mercado, em detrimento da regulamentação de órgãos governamentais.

• Ênfase no mercado - a orientação para a demanda tende a valorizar a oferta de cursos superiores que proporcionem maior retorno imediato aos investidores, em detrimento de outros com menor "apelo" de mercado. Esse aspecto é reforçado pela forte associação entre conhecimento adquirido e capital humano, que o resume a uma mercadoria comprada e vendida no mercado.

Alguns pontos merecem destaque: embora seja importante a busca do aumento da eficiência e da eficácia na orientação das IES, uma vez que a gestão de qualquer empreendimento deve considerar esses princípios, nunca se deve esquecer que a educação, em seus diversos níveis, prepara indivíduos para contribuírem com o desenvolvimento e fortalecimento da sociedade e do país. E isso que requer um forte compromisso com a construção do futuro. Portanto, o compromisso com a educação pressupõe uma orientação estratégica que a coloca além dos requisitos estabelecidos pelo mercado.

Se por um lado uma atuação transnacional da educação superior pode favorecer o intercâmbio de conhecimentos, o modo como os países emergentes optarem por se inserir nesse mercado global pode comprometer suas agendas de desenvolvimento tornando-os meros reprodutores do conhecimento gerado nos países centrais. Opção que fatalmente limitará a incorporação de novos conhecimentos essenciais para a inovação.

Outro ponto crítico reside na orientação assumida pelo MEC com relação à articulação entre ensino, pesquisa e extensão, considerados pilares da educação superior no país.

*Daniel Roedel é Diretor da Plurimus

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho que o MEC necessariamente terá que se reposicionar e criar regras mais flexíveis, independentemente de uma maior pressão internacional dos provedores dos cursos. Hoje o modelo é bastante centralizador e engessado.

Anônimo disse...

A internacionalização da educação é um fato que se assemelha aos demais da economia de mercado. A preocupação é com a sua transformação em mercadoria. Concordo com o artigo.

J. Carlos

Anônimo disse...

A educação superior deve sair da visão fechada da academia e se aproximar do mercado. Finalmente já está acontecendo, e o Brasil não pode ficar para trás.