quarta-feira, 9 de julho de 2008

Desenvolvimento Local

Desafios e Perspectivas para a Cidade do Rio de Janeiro
no Século XXI – parte I

Hiran Roedel*

O estudo sistematizado de determinada região ou território com o objetivo da elaboração de um conhecimento que oriente uma melhor forma de intervir para o seu desenvolvimento, exige, inicialmente, a compreensão das forças responsáveis por sua organização. Segundo Milton Santos, “O espaço é formado por dois componentes que interagem continuamente: a) a configuração territorial, isto é, o conjunto de dados naturais, mais ou menos modificados pela ação consciente do homem, através de sucessivos ‘sistemas de engenharia’; e b) a dinâmica social ou o conjunto de relações que definem uma sociedade em dado momento” (1).
De acordo com essa descrição, deve-se observar o processo de interferências do homem, no decorrer do tempo, bem como em uma dada época, sobre o espaço natural e sua relação na composição de um espaço socialmente construído. Tal interferência do homem no espaço, a partir de seus meios técnicos, estabelece o ritmo das produções materiais e culturais, o que é institucionalizado pelas ações políticas conforme as correlações de forças que nele atuam. Ou seja, “a dinâmica social é dada pelo conjunto de variáveis econômicas, culturais, políticas etc., que a cada momento histórico dão uma significação e um valor específicos ao meio técnico criado pelo homem, isto é, à configuração territorial” (2).
Dessa forma, as transformações econômicas e políticas ocorridas no mundo e no Brasil, nas últimas décadas, impuseram uma nova dinâmica na configuração de territórios alterando, portanto, o modo de se inserir tanto no mercado de trabalho quanto na produção de bens de consumo. A introdução de novas tecnologias ao mesmo tempo em que acelera o ritmo da produção empurra, também, massas de trabalhadores para o desemprego e/ou o trabalho informal. O denominado “chão da fábrica” se alterou, levando consigo a alteração nas relações de produção.
A mundialização do capital alterou o sistema de representação do mundo, bem como introduziu novos atores no jogo político. A interdependência econômica entre os Estados nacionais fez emergir “ilhas” de dinamismo econômico favorecido pelo ambiente de intercomunicabilidade até então nunca visto. A ampliação do volume de negócios decorrente implicou a mudança da relação espaço/tempo e abriu novas possibilidades de inserção no mercado, enquanto, ao mesmo tempo, o novo ambiente intensificou a complexidade do campo social. O seu correspondente foi a variedade de classes e segmentos de classe que se impôs alterando o campo semântico do antagonismo até então fundamental do capitalismo acentuando antigas tensões e impondo novas.
A interação comunicacional não reconhece mais as barreiras geográficas e, por isso, permite às regiões o desenvolvimento de relações econômicas, políticas e culturais com diversas regiões, independente da distância. As particularidades de cada sociedade, construídas historicamente, potencialmente tendem a se ampliar. Contudo, para que tal situação tendencial se manifeste, faz-se necessário o conhecimento das potencialidades locais e suas possibilidades de interconexões com o cenário global.
Além disso, esse modo de acumulação capitalista causou consideráveis danos ao meio ambiente e à qualidade de vida das populações, comprometendo, também, as gerações futuras. Identificar formas de apropriação da natureza que promovam um desenvolvimento sustentável e preservem a cidadania, ampliando-a para todas as camadas das populações são aspectos essenciais da realização de políticas públicas.
No caso da cidade do Rio de Janeiro, todos esses aspectos têm forte repercussão na formulação dessas políticas. Cidade detentora de uma incomparável beleza urbana que concilia natureza e arquitetura, capital do Brasil por dois séculos, local que abriga os mais importantes símbolos identitários do país, o Rio de Janeiro encontra-se numa trajetória de resgate de sua presença econômica e política no país e no exterior. Desse modo, esses aspectos podem ser explorados tanto pelo lado político-cultural da nacionalidade como também pelo lado comercial, investindo nesses ativos tangíveis e intangíveis (3). Isso resulta, conseqüentemente, no aumento da arrecadação tributária e na geração de riqueza local. Perspectiva que se coaduna com o conceito de desenvolvimento local, “que procura reforçar a potencialidade do território mediante ações endógenas, articuladas pelos seus diferentes atores: sociedade civil, poder público e o mercado” (4).
*Hiran Roedel é Diretor da Plurimus


Notas:

(1) SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado. SP: Huicitec, 1997, p.111.
(2) ibidem, p.112.
(3) ROEDEL, Hiran. Globalização, Comunicação e Teleporto: A Cidade do Rio de Janeiro em Rede. Tese de doutorado aprovada pela ECO/UFRJ. Rio de Janeiro, 2001.
(4) TENORIO, Fernando G. – organizador. Cidadania e Desenvolvimento Local. Rio de Janeiro: FGV; Ijuí: Ed Unijuí, 2007.

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