quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Eleições no Brasil


Gestão ou política?

Daniel Roedel


Em época de eleições é muito comum que candidatos se apresentem a cargos executivos como sendo modernos gestores preocupados e atentos ao modo de como vão conduzir o poder público tanto no âmbito federal, como no estadual e municipal. E essa postura parece encontrar respaldo em parte do eleitorado que, ansioso por uma melhor qualificação na prestação dos serviços públicos, acaba por ecoar esse modo de fazer política, porém sem política.

Não é que a gestão não seja importante nem que não tenha o seu espaço na condução da coisa pública. Porém, deve se ter claro que ela possui alcances e limites que estão obviamente subordinados a uma orientação política que acaba escondida ou abandonada na intenção de se encontrar alguém para ocupar tais cargos do poder executivo, que seja capaz de fazer bem feito o dever de casa.

Essa conduta, parece ter se fortalecido a partir dos anos 1990, quando o triunfo da orientação capitalista sobre o modelo socialista, então praticado em diversos países, decretou que não havia mais disputa entre distintas visões de mundo e de organização da sociedade. Restava apenas aos países conduzirem a gestão pública com eficiência e eficácia para se alcançar vantagens competitivas num mundo integrado e plano.

Assim, a política passou a ser entendida como uma discussão saudosista e jurássica, objeto de paixão daqueles que ainda insistiam em fazer um debate ideológico que, segundo esses apologistas do fim da história, não tinha mais sentido.

Mas novamente a história insiste em desmentir esses ideólogos disfarçados de especialistas isentos. Isto porque a crise que abalou os países centrais, se alastrou por todo o planeta e que ainda persiste no mundo, mostra que a orientação única da vida dos países é a própria crise! E nela, cada vez mais a necessidade de remunerar especuladores vorazes aumenta a necessidade de uma gestão que privilegie uma dita “austeridade”. Esse modelo único tem predominado no mundo na atualidade. Assim, se eliminam ações sociais para se adquirir um superávit primário e remunerar os “investidores”.

É isso que mais uma vez Maria Lúcia Fattorelli e a Auditoria Cidadã da Dívida Pública, de cujo núcleo do Rio de Janeiro participo, mostram no importantíssimo documentário Dívida pública brasileira – a soberania na corda bamba.

Para se ter uma ideia da sangria anual, basta verificar o gráfico a seguir do orçamento federal para 2014, divulgado pela Auditoria cidadã:


Mas não se contentem aqueles que se opõem ao atual governo! A sangria vem dos governos dos generais que tiveram forte apoio de segmentos empresarias. Isso mesmo! Eles nunca foram moralizadores como atualmente se divulga.

Convidamos a todos interessados na busca de outros mundos possíveis a divulgarem o documentário e a Auditoria Cidadã. O trabalho de Maria Lúcia e da Auditoria, já apresentado neste espaço, é bastante oportuno para entendermos e nos posicionarmos com relação à situação em que vivemos. É também uma grande bandeira para aqueles que foram às ruas em 2013 no país em busca de uma sociedade melhor. Além, é claro, de ser um exemplo de que não somos vira-latas como pensa parte da elite e de setores da classe média. Nossa condição de subdesenvolvimento é a condição de desenvolvimento para os países centrais. Mas aí temos que voltar a Celso Furtado e Florestan Fernandes, entre outros importantes brasileiros, que não desistiram do pensamento crítico.

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