quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capital financeiro

Considerações sobre a trajetória de hegemonização do capital financeiro
no sistema do capital contemporâneo I

Hiran Roedel*

A partir de meados dos anos 60 do século XX – nos EUA –, o sistema do capital começou a configurar um processo de mutação que levaria à afirmação da financeirização da economia em escala mundial. Iniciava-se, ali, a conjuntura em que a ampliação do capital se descolava de sua condição obrigatória da produção e da circulação de mercadorias para a pura e simples transformação de dinheiro em mais-dinheiro (D-D’). Tal situação se consolidaria duas décadas depois quando a transfiguração da riqueza passaria do bem material para o bem financeiro, contaminado não somente o setor privado, como também o setor público, cuja preocupação com a liquidez assumiria a tônica dos discursos macroeconômicos [1].
A conjuntura formada na segunda metade dos anos 60 decorria do déficit no balanço de pagamento norte-americano e do significativo aumento de circulação de dólares no mercado internacional, devido à necessidade de financiamento da dívida da maior economia do mundo. Tendo como imperativo o refinanciamento desta, o tesouro dos EUA passou a lançar títulos no mercado como condição de ampliar a sua liquidez, contrariando, desse modo, as determinações do regime de Bretton Woods que condicionava a circulação monetária ao seu lastro em ouro. A situação obrigou, em agosto de 1971, o governo Nixon romper com a conversibilidade em ouro.
Outros dois fatores, no entanto, que também condicionaram as mudanças no sistema do capital, encontram-se, igualmente, na década de 1970: as duas crises do petróleo. Entre 1973 e 74, o preço do barril do petróleo quadruplicou e atingiu 12 dólares, o que voltou a ocorrer entre 1979 e 80, quando o barril chegou a 30 dólares. Tais elevações afetaram diretamente as economias dos EUA e da Europa ocidental, ambas fortemente dependentes do petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP, levando a Europa a interromper um processo de recuperação econômica que vinha desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

As economias capitalistas vinculadas e/ou dependentes desses dois centros dinâmicos, como decorrência passaram a conviver com a escalada inflacionária que teve como resposta a elevação internacional da taxa de juros. Tal situação proporcionou ainda mais o agravamento das condições sócio-econômicas dos países do chamado Terceiro Mundo, diante da diminuição da oferta de dólares no mercado internacional para financiar suas economias. Estava posta aí a necessidade de liquidez em âmbito mundial, cuja resposta foi a associação da elevação da taxa de juros com a adoção da flexibilização das taxas cambiais e o aumento das dívidas dos países periféricos na busca por dólares.

Mas não se pode avançar no diagnóstico das mudanças no sistema do capital, deixando de lado as transformações tecnológicas ocorridas no campo da comunicação.
As experiências do Vale do Silício/EUA, em fins dos anos 60 e início dos 70, auge da Guerra Fria, geraram inovações tecnológicas no campo da comunicação que permitiram a organização de uma rede de interconexão em tempo real. Uma década depois, em princípio dos anos 80, essa tecnologia ganha espaço comercial e possibilita, também, o início da conexão em rede das principais praças financeiras do mundo, permitindo a ampliação do fluxo de capitais [2].

Na passagem dos anos 70 para os 80, a afluência dos petrodólares promovida pela elevação dos preços do petróleo impulsionou a necessidade de se criar novas possibilidades de ampliação do capital gerado por essa elevação, tendo em vista a crise de liquidez que então imperava nas economias centrais. Atrair esses volumes de recursos não mais interessados pela produção, mas sim pela especulação, passou a ser a grande meta. A oferta técnico-comunicacional tornou factível a operação D-D’ em tempo real, permitindo que o capital financeiro assumisse condição preponderante até que se tornasse hegemônico na década seguinte.

A nova conjuntura alterou significativamente a acumulação de capital privado nas economias industriais. De acordo com Belluzo, a taxa de concentração entre 1960 e 1973 evoluía a 5% ao ano, enquanto que em meados dos anos 80 reduziu para 3%, sendo que na indústria manufatureira a redução foi ainda maior, pois caiu de 5,5% para menos de 2% [3]. Somente na Inglaterra, de 1979 a 1989, cresceram em dois terços os investimentos em atividade de distribuição e triplicou no setor financeiro, ficando estagnado no setor produtivo [4]. Firmava-se, nesse momento, a tendência da transferência do dinamismo no sistema do capital do setor produtivo para o setor financeiro.

Este poderia agora, facilitado pelo aparato técnico-científico informacional, apostar na intensificação das transações em um mercado integrado em rede, o que facilitaria sua mobilidade e, portanto, diminuiria o tempo necessário para a geração de mais-dinheiro. As novas possibilidades surgidas pela expansão da rede incentivaram o combate às proteções de monopólios favorecidos historicamente pelas dificuldades de transportes e de comunicação. Aumentaram, com isso, as pressões para a eliminação de tais barreiras protecionistas aos monopólios sustentados pelas condições geográficas e políticas do passado. A emergência das novas condições históricas, desse modo, é responsável pela intensificação da remodelação da formação monopolística assentada, agora, na ampliação da concorrência [5].

Para se completar a nova configuração de um mercado integrado em nível globalizado, restava ainda a eliminação do entrave do Estado nacional que deveria ser removido. Esta seria, a partir de então, a batalha travada pelo sistema do capital, mas não pela eliminação total do Estado, e sim para a sua reorganização de modo que cuidasse apenas das garantias do capital e transferisse as demandas sociais para o mercado.

1 – Cf. SOUZA BRAGA, J. Carlos de. Financeirização global – o padrão sistêmico de riqueza do capitalismo contemporâneo. In: TAVARES, Mª da Conceição e FIORI, J. Luís. Poder e dinheiro: uma economia política da globalização. Petrópolis, Vozes, 1997. Sobre o tema, ver também, na mesma obra: BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. Dinheiro e as transfigurações da riqueza. 
2 – CASTELLS, Manoel. Sociedade em rede (A era da informação: economia, sociedade e cultura), v.I. São Paulo: Paz & Terra, 1999.  pp. 58-77.
3 – BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. op.cit. p.190.
4 – Idem.
5 – HARVEY, David. A arte de lucrar:globalização, monopólio e exploração da cultura. In: MORAES, Denis de (org.). Por uma outra comunicação – mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 148, pp. 139-171.

*Historiador, Doutor em Comunicação e Professor Universitário

continua

Capitalismo e sustentabilidade

Crise terminal do capitalismo?*

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.


A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.


A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.


O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.


Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal 12% no país e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas, mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.


A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.


Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.


As ruas de vários países europeus e árabes, os “indignados” que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: “não é crise, é ladroagem”. Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumossacerdotes do capital globalizado e explorador.


Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da superexploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

*Extraído de Carta Maior. Para acesso clique em Carta.
**Teólogo e escritor

Meio ambiente

Recomendamos o curso promovido pelo Grupo Brasil Verde

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Plurimus

Plurimus, 3 anos de blog!


No dia 23 de junho de 2008 iniciávamos o nosso blog com o artigo Responsabilidade Social Empresarial. Para marcar a data esta edição apresenta novamente o tema, agora pelo entendimento de Wagner Siqueira, presidente do Conselho Regional de Administração - CRA-RJ.

Inicialmente, nossa intenção foi oferecer um meio de informação e comunicação sobre temas como história, cidadania, desenvolvimento local, gestão etc, para apoiar os projetos educacionais que desenvolvemos. No entanto, a aceitação foi além da proposta inicial. Já contabilizamos mais de 7 mil acessos desde maio de 2009, quando começamos a registrar a frequência ao blog. O quadro abaixo demonstra que a procura por nossos artigos tem origem em diversas partes do mundo. E isso é extremamente gratificante!

Do mesmo modo, os comentários que recebemos e as participações nas enquetes que realizamos qualificam o trabalho realizado.

Essas respostas nos estimularam a experimentar o twitter como mais um modo de comunicação.

Como mais novo desafio temos agora o projeto de criação de uma revista eletrônica! É claro, porém, que a continuação e ampliação da receptividade do trabalho que realizamos serão ingredientes fundamentais para a empreitada!

Continuem nos acompanhando e participando!


Muito obrigado!

Plurimus



Responsabilidade Social

O Mito da Responsabilidade Social das Empresas

 Adm. Wagner Siqueira*

 É uma doce ilusão julgar que mudanças voluntaristas produzidas por empresários progressistas sejam capazes por si só de transformar o sistema econômico, garantindo-lhe algum sentido de espírito publico e de bem comum. 

As mudanças incrementais produzidas nos estamentos burocráticos das macro corporações modernas não são suficientes para humanizá-las. É necessário que o processo de mudança seja sistêmico e globalizante, abrangendo os conceitos, as estruturas e a lógica que permeiam a atual ordem econômica mundial.

As mudanças incrementais restritas em nível organizacional strictu sensu são fadadas, cedo ou tarde, ao fracasso.

É comum as organizações anunciarem políticas de valorização de recursos humanos ao mesmo tempo em que promovem drásticos cortes de sua força laboral, sempre em nome dos imperativos da racionalidade de gestão, do combate ao desperdício e do controle de custos.

Buscam surfar na onda das políticas e das práticas da proteção ambiental na medida em que essas lhes propiciem melhor imagem pública e aumento de sua capacidade de venda, sob a ostentação do indefectível selo verde de qualidade. Apregoam as maravilhas de seus programas de distribuição de lucros aos empregados, mas cortam salários, benefícios, direitos e garantias trabalhistas e previdenciárias.

Apresentam-se como empresas-cidadãs, sempre ávidas dos privilégios fiscais e tributários que julgam merecer. Os bancos brasileiros, por exemplo, têm belíssimos programas de responsabilidade social concomitante à aplicação dos juros mais escorchantes do mundo. 

É preciso, assim, desconstruir as ilusões que embalam hoje em dia muitos profissionais bem intencionados que militam nesses programas no mundo das corporações em todo o mundo.

O mais das vezes, por trás das novas crenças da responsabilidade social, da participação acionária, das empresas-cidadãs, por trás de muitas dessas práticas que se pretendem nobres, puras, éticas e transcendentes, subsistem interesses escusos, escolhas inconscientes, verdades mais profundas ainda não percebidas e, quando não, inconfessáveis.

Essas práticas poderão ser bem mais consequentes e contributivas à melhoria do mundo do trabalho se aprendermos a desconfiar das evidências, das idéias prontas e aparentemente generosas, para tentar perceber, em sua essência, o que há por trás de cada uma delas. 

É claro que não podemos pensar que todas as organizações que se dedicam aos programas de responsabilidade social não os façam de forma legítima e lícita. Mas é preciso estar sempre alerta sobre todos para podermos separar o joio do trigo. E, só assim, fazer avançar a verdadeira democracia cidadã.

*Presidente do CRA-RJ

Música

Prelúdio 21 - música do presente

O grupo de compositores PRELÚDIO 21 convida o Duo Sara Cohen e Paulo Passos (piano e clarinete/clarone) para interpretar suas obras.

O Prelúdio 21 é formado pelos compositores Alexandre Schubert, Caio Senna, J. Orlando Alves, Marcos Lucas, Neder Nassaro e Sergio Roberto de Oliveira.


25 de junho (sábado) às 15h
Centro Cultural Justiça Federal (CCJF) - Rio de Janeiro
Av. Rio Branco, 241 – Centro (metrô Cinelândia)

ENTRADA FRANCA

quinta-feira, 16 de junho de 2011

As empresas e a sustentabilidade

Sustentabilidade: adjetivo ou substantivo?*


É de bom tom hoje falar de sustentabilidade. Ela serve de etiqueta de garantia de que a empresa, ao produzir, está respeitando o meio ambiente. Atrás desta palavra se escondem algumas verdades mas também muitos engodos. De modo geral, ela é usada como adjetivo e não como substantivo.

Explico-me: como adjetivo é agregada a qualquer coisa sem mudar a natureza da coisa. Exemplo: posso diminuir a poluição química de uma fábrica, colocando filtros melhores em suas chaminés que vomitam gases. Mas a maneira com que a empresa se relaciona com a natureza donde tira os materiais para a produção, não muda; ela continua devastando; a preocupação não é com o meio ambiente mas com o lucro e com a competição que tem que ser garantida. Portanto, a sustentabilidade é apenas de acomodação e não de mudança; é adjetiva, não substantiva.

Sustentabilidade, como substantivo, exige uma mudança de relação para com a natureza, a vida e a Terra. A primeira mudança começa com outra visão da realidade. A Terra está viva e nós somos sua porção consciente e inteligente. Não estamos fora e acima dela como quem domina, mas dentro como quem cuida, aproveitando de seus bens mas respeitando seus limites. Há interação entre ser humano e natureza. Se poluo o ar, acabo adoecendo e reforço o efeito estufa donde se deriva o aquecimento global. Se recupero a mata ciliar do rio, preservo as águas, aumento seu volume e melhoro minha qualidade de vida, dos pássaros e dos insetos que polinizam as árvores frutíferas e as flores do jardim.

Sustentabilidade, como substantivo, acontece quando nos fazemos responsáveis pela preservação da vitalidade e da integridade dos ecossistemas. Devido à abusiva exploração de seus bens e serviços, tocamos nos limites da Terra. Ela não consegue, na ordem de 30%, recompor o que lhe foi tirado e roubado. A Terra está ficando, cada vez mais pobre: de florestas, de águas, de solos férteis, de ar limpo e de biodiversidade. E o que é mais grave: mais empobrecida de gente com solidariedade, com compaixão, com respeito, com cuidado e com amor para com os diferentes. Quando isso vai parar?

A sustentabilidade, como substantivo, é alcançada no dia em que mudarmos nossa maneira de habitar a Terra, nossa Grande Mãe, de produzir, de distribuir, de consumir e de tratar os dejetos. Nosso sistema de vida está morrendo, sem capacidade de resolver os problemas que criou. Pior, ele nos está matando e ameaçando todo o sistema de vida.

Temos que reinventar um novo modo de estar no mundo com os outros, com a natureza, com a Terra e com a Última Realidade. Aprender a ser mais com menos e a satisfazer nossas necessidades com sentido de solidariedade para com os milhões que passam fome e com o futuro de nossos filhos e netos. Ou mudamos, ou vamos ao encontro de previsíveis tragédias ecológicas e humanitárias.

Quando aqueles que controlam as finanças e os destinos dos povos se reúnem, nunca é para discutir o futuro da vida humana e a preservação da Terra. Eles se encontram para tratar de dinheiros, de como salvar o sistema financeiro e especulativo, de como garantir as taxas de juros e os lucros dos bancos. Se falam de aquecimento global e de mudanças climáticas é quase sempre nesta ótica: quanto posso perder com estes fenômenos? Ou então, como posso ganhar comprando ou vendendo bônus de carbono (compro de outros países licença para continuar a poluir)? A sustentabilidade de que falam não é nem adjetiva, nem substantiva. É pura retórica. Esquecem que a Terra pode viver sem nós, como viveu por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela.

Não nos iludamos: as empresas, em sua grande maioria, só assumem a responsabilidade socioambiental na medida em que os ganhos não sejam prejudicados e a competição não seja ameaçada. Portanto, nada de mudanças de rumo, de relação diferente para com a natureza, nada de valores éticos e espirituais. Como disse muito bem o ecólogo social uruguaio E. Gudynas: "a tarefa não é pensar em desenvolvimento alternativo, mas em alternativas de desenvolvimento”.

Chegamos a um ponto em que não temos outra saída senão fazer uma revolução paradigmática, senão seremos vítimas da lógica férrea do Capital que nos poderá levar a um fenomenal impasse civilizatório.

*Extraído de Carta Maior. Para acesso clique em Carta.

Rio + 20

Resultado de nossa enquete: a Conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável acontecerá no Rio de Janeiro, em junho de 2012, para marcar o vigésimo aniversário da ECO 92. Você está otimista com relação aos resultados que podem advir desse encontro mundial?
  • Sim. Será uma grande oportunidade de se estabelecer um novo pacto mundial para uma economia verde e a justiça social, principalmente devido aos graves problemas socioambientais, acontecidos no mundo todo nos anos recentes 19%
  • Sim, principalmente porque pode se tratar de um momento de grande mobilização da sociedade civil em torno de um tema de interesse público, gerando um ponto de inflexão na forma como participamos de importantes discussões sobre os rumos do nosso planeta 24%
  • Não. Será mais uma oportunidade perdida devido principalmente à resistência de alguns países, principalmente os Estados Unidos e a China em assumir compromissos responsáveis em prol de um desenvolvimento sustentável 11%
  • Não, porque os possíveis avanços vindos de encontros como esses não são suficientes para a construção de uma nova consciência e prática sustentável nos países e na sociedade em geral, que comumente nem costuma ficar sabendo desses eventos 27%
  • Tenho pouca informação a respeito dos objetivos da Conferência para me posicionar 19%

Nossa opinião

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) está sendo organizada em conformidade com a Resolução da Assembleia Geral 64/236 (A/RES/64/236). Acontecerá  no Brasil em junho de 2012 para marcar o 20º aniversário da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), de 1992, no Rio de Janeiro, e o 10º aniversário da Cimeira Mundial de 2002 sobre o Desenvolvimento Sustentável (WSSD), em Joanesburgo. Prevê-se como uma conferência ao mais alto nível decisório, uma vez que inclui chefes de Estado e de Governo ou outros representantes. A Conferência irá resultar em um documento cujo objetivo é o de garantir um compromisso político renovado para o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso alcançado e as lacunas na implementação dos resultados das cimeiras importantes de desenvolvimento sustentável e enfrentar os desafios novos e emergentes.

Os posicionamentos acirrados na enquete que realizamos apontam para uma diferença de 5 pontos percentuais a favor de uma expectativa otimista. No entanto, se considerarmos as alternativas separadamente o ceticismo predomina, uma vez que 27% dos que responderam entendem que a iniciativa não é suficiente para a efetivação de uma prática sustentável, principalmente devido a um afastamento da sociedade em geral com relação ao tema.

Talvez o pouco destaque na mídia ou a simplificação da prática da sustentabilidade ainda predominante nas iniciativas empresariais e governamentais estejam contribuindo para o baixo esclarecimento com relação ao tema (resposta de 19% dos nossos leitores que responderam a enquete). Tudo isso ocorre apesar da relevância que o tema possui, principalmente devido ao agravamento dos problemas socioambientais nos anos recentes.

Novamente reiteramos que a mobilização da sociedade civil pode ser determinante para que resultados de eventos como a Conferência Rio +20 sejam indutores da construção de uma nova ordem mundial. E os recentes acontecimentos no Egito, na Espanha, em Portugal e outros países que têm tido uma participação popular de destaque no questionamento às políticas de ajuste econômico ou na luta por democracia podem ser importantes exemplos.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Movimentos sociais

A pensar nas eleições*
Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.

Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores.

Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a
agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa.

Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático.

A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.

A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?

*Extraído de Carta Maior. Para acesso clique em CARTA.

Nelson Werneck Sodré

Um marxista polêmico que ousou pensar um projeto para o Brasil - final

Hiran Roedel*

Prosseguindo em seus estudos, em 1961 Nelson Werneck lançou mais um livro, A Ideologia do Colonialismo e no ano seguinte, provavelmente o livro que lhe causou maior polêmica: Formação Histórica do Brasil. Neste faz um estudo exaustivo do processo histórico brasileiro defendendo a existência de marcas do modo de produção feudal coexistindo com o escravismo que predominou em regiões cuja produção em larga escala era voltada à exportação. Ou seja, onde não havia o vínculo direto com o mercado externo, ou quando o havia não se caracterizava como uma produção em larga escala, ali teriam se desenvolvido relações típicas de feudalidade transplantadas do imaginário metropolitano.

Com o golpe de 1964, o ISEB foi extinto e Nelson Werneck teve seus direitos políticos cassados por dez anos. No ano seguinte publicou Ofício de Escritor, O Naturalismo no Brasil, As Razões da Independência e A História Militar do Brasil, no mesmo ano em que algumas de suas obras começam a ser recolhidas pela repressão. Contudo, mesmo em meio ao acirramento das tensões políticas internas Nelson Werneck prosseguiu produzindo e, em 1966, lançou História da Imprensa no Brasil, além de, em 1968, mais quatro livros: Fundamentos da Economia Marxista, Fundamentos da Estética Marxista, Fundamentos do Materialismo Histórico e Fundamentos do Materialismo Dialético.

Nelson avançava na militância da luta ideológica como forma de resistência à ditadura, o que o fazia em consonância com a estratégia do PCB de não adotar a luta armada contra o regime civil-militar. Sendo assim, em Síntese de História da Cultura Brasileiro, de 1970, traça o processo histórico de formação da cultura no país relacionando as transformações econômicas e as características de classe na evolução desta ao longo dos tempos.

Nessa obra, a composição do campo cultural brasileiro é vista de modo articulado com o dinamismo sócio-econômico.  O caráter de classe se constitui, desse modo, no elo fundamental para se explicar a estética que a cultura assumiu em suas diversas épocas. É o que lhe permite demonstrar o perfil dos novos valores que então assumia a cultura com o avanço da indústria cultural no país pós-64.

Sua produção de escritor prosseguiu. Dentre várias obras, pode-se destacar A Coluna Prestes (1978), Vida e Morte da Ditadura, Contribuição à História do PCB e Materialismo Histórico no Brasil, todos de 1984. Em 1987 mais uma obra ligada ao campo cultural: Literatura e História no Brasil Contemporâneo e no ano seguinte publica Em Defesa da Cultura.

Persistindo em sua preocupação na compreensão da dinâmica da formação social brasileira na fase do capitalismo e de sua classe dominante, publicou, em 1990, Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil. Diante da organização da hegemonia da ideologia neoliberal que impôs o pensamento único como condição para a interpretação da realidade social, Nelson Werneck escreveu A farsa do Neoliberalismo, em 1995.

Percebe-se a dedicação e preocupação que Nelson Werneck teve na busca dos elos explicativos da formação social brasileira. Muito ficou por dizer, pois um estudo detalhado ainda carece ser realizado sobre a obra do escritor que ousou pensar o Brasil sem medo de polêmicas e de patrulhamentos políticos-ideológicos. A diversificação de seus títulos demonstra a originalidade, perspicácia e honestidade intelectual desse pesquisador marxista.
 
*Historiados e Doutor em Comunicação

Mudança Sustentável

 IV EMS – Encontro para a Mudança Sustentável

A Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho Regional de Administração - CRA-RJ debaterá, no dia 16 de junho, a Agenda 21 no âmbito do COMPERJ.

A programação faz parte das iniciativas do Conselho com relação à reflexão, o debate e a proposição de ações sustentáveis na prática da gestão de organizações públicas, privadas e sociais.


“Agenda 21 COMPERJ”

PROGRAMAÇÃO

HORÁRIO
ATIVIDADE

09:00h

Credenciamento e Network Coffee

09:30h
Abertura
·       Adm. Wagner Siqueira – Presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro.


09:40h
Palestra:     ”Aspectos gerais da Agenda 21 e o COMPERJ neste contexto”

·      Adm Ricardo Frosini de Barros Ferraz: Administrador de empresas pela USP – Universidade Estadual de São Paulo. Especialista em Gerenciamento de Projetos pelo PMI. Atualmente trabalha na Comunicação Institucional da Petrobras, desempenhando a função de Coordenador Geral do Projeto Agenda 21 COMPERJ.





10:40h


Abertura para perguntas



11:40h

Encerramento

Programação sujeita a alterações


Realização:
CRA-RJ / Comissão de Desenvolvimento Sustentável


Local: Auditório CRA-RJ
Rua Prof. Gabizo, 197 – 2º andar Tijuca – Rio de Janeiro


Para participar do evento clique em CRA-RJ e se inscreva.