quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mídia e democracia


A UDN, os IPMs e a mídia brasileira*
Maria Inês Nassif

Logo após o golpe militar de 1964, os "revolucionários", inclusive os de ocasião, aproveitaram o momento de caça às bruxas para eliminar adversários. O primeiro ato institucional cuidava de tirar da arena política os que haviam cometido "crimes de opinião", condenados no rito sumário de uma canetada, de acordo com os humores das autoridades de plantão.

Os Inquéritos Policiais Militares (IPMs) davam conta dos opositores que não podiam ser enquadrados na acusação de subversão: eram tribunais que, simultaneamente, investigavam e condenavam acusados de corrupção. Sem direito à defesa num caso e no outro, os políticos incômodos aos novos donos do poder saíam de cena, pelas listas de cassados publicadas pelo Diário Oficial, ao arbítrio dos militares, e pelos resultados de inquéritos aos quais não tinham acesso nem para saber por que estavam sendo cassados.

A bandeira da anticorrupção tomada pelos militares do braço civil da revolução, a velha UDN, que havia comovido as classes médias, foi consumada pelos IPMs. A presteza da exclusão de "políticos corruptos" [aqui entre aspas porque os processos não foram públicos e eles não tiveram direito à defesa] do cenário por esse mecanismo era um forte apelo às classes que apoiaram o golpe, ideologicamente impregnadas pelo discurso udenista anticorrupção que prevaleceu na oposição a João Goulart, antes dele a Juscelino Kubitschek, antes de ambos a Getúlio Vargas, na falta de uma proposta efetiva que permitisse a essa parcela da elite conquistar o poder pelo voto.

Era, no entanto, uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que satisfazia os anseios de moralização da política da classe média e das elites (o número de punições e a exposição pública dos supostos meliantes conta muito mais para o público conservador do que a justeza da condenação), era um instrumento de reacomodação das forças políticas civis que se dispunham a dar apoio ao poder militar. A delação - tanto política como moral - foi usada para redefinir a geografia do mando local, os grupos preferencialmente perfilados ao novo governo.

O fiscal de quarteirão não era um parceiro a ser desprezado pelo novo regime: foi uma peça importante na reacomodação de forças políticas e deu número, volume amplificado, às supostas apurações de denúncias de corrupção. Quanto maior o número de cassações por desvio de dinheiro público que saíssem no Diário Oficial, mais a imagem de moralização era imprimida ao poder militar, independentemente da culpa efetiva dos punidos. Os inocentes jamais tiveram chances de provar a sua inocência. Mesmo devolvidos à vida pública após 10 anos de cassação (essa era a punição), carregaram por toda a vida a pecha de "cassado por corrupção".

Existiam os casos de políticos notoriamente corruptos, é lógico, mas após 10 anos de cassação eles voltaram à arena eleitoral dispostos a convencer os seus eleitores de que eles haviam sido injustiçados. Tinham mais capacidade para isso do que os punidos injustamente, até porque eram chefes de grupos políticos locais e nesses lugares a política de compadrio se misturava e se aproveitava da corrupção para manter votos em regiões de baixa escolaridade e muita fome.

É tênue a linha que separa o julgamento sumário - pelo Estado ou por instituições que assumem para si o papel de guardiães plenipotenciários da justiça e da verdade - da injustiça. O "jornalismo de denúncia" que se tornou hegemônico na grande imprensa traz o componente de julgamento sumário dos IPMs pós-64 e o elemento propagandístico udenista do pré-64. Assume, ao mesmo tempo, as funções do julgamento e da condenação, partindo do princípio de que, se as instituições não funcionam, ele as substitui. Da mesma forma que o IPM, a punição é a exposição pública. E, assim como os Estados de regimes autoritários, o direito de defesa é suprimido, apesar da formalidade de "ouvir o outro lado"?

Este é um lado complicado da análise da mídia tradicional porque traz junto o componente moral. Antes de assumir o papel de polícia e juiz ao mesmo tempo, consolidou-se como porta-voz da moral udenista. Hoje, as duas coisas vêm juntas: o discurso de que a política é irremediavelmente corrupta e a posição de que, sem poder na política institucional, já que está na oposição, a mídia pode revestir-se de um poder paralelo e assumir funções punitivas. A discussão é delicada porque, não raro, quem se indispõe contra esse tipo de poder paralelo da imprensa é acusado de conivente com a corrupção, mesmo que a maioria das pessoas que ouve o argumento reconheça que o julgamento da mídia tradicional é ilegítimo, falho e tem um lado, isto é, não é imparcial.

O marketing da moralidade vende muito jornal e revista na classe média, mesmo quando os erros do julgamento sumário pelas páginas da imprensa sejam muitos e evidentes. O udenismo também tem o lado da propaganda política, de desqualificação do processo democrático - não está em questão o fato de que existem políticos corruptos, mas a ideia de que a política é, em si, corrupta.

Diante desse histórico da imprensa brasileira, a notícia da tal Folhaleaks é particularmente preocupante. Em vez de Wikileaks - uma organização não governamental que lida com informações vazadas de governos e as submete ao escrutínio da apuração de veículos para divulgação - é Folhaleaks: um canal aberto a denúncias anônimas, que podem envolver os mais diversos e obscuros interesses por parte de quem denuncia. O risco é que essa forma de captação da informação reinstitua a política da denúncia do fiscal de quarteirão, mas desta vez executada não pelo Estado, mas como demonstração do poder de fazer e desfazer reputações que se autodelegou a mídia.


*Extraído de Carta Maior.

Outra globalização

Uma semana de setembro*
Mauro Santayana

É quase certo que a semana que se encerrou ontem, sábado, tenha sido decisiva para a História deste século que se iniciou há dez anos, com os fatos misteriosos de Nova York. A ONU, que não tem sido mais do que um auditório, espécie de ágora mundial, mas sem o poder político de que dispunham as praças de Atenas, ouviu quatro discursos importantes. Dois deles em nome da paz, do futuro, da lucidez e dois outros que ecoaram como serôdios. Dilma e Abbas, em nome dos que não aceitam mais essa divisão geopolítica do mundo; Netanyahu e Obama, constrangidos porta-vozes de um tempo moralmente morto. A assembleia geral estava separada em dois lados definidos, ainda que assimétricos.
 
A presidente do Brasil falava em nome das novas realidades, como a da emancipação das mulheres — pela primeira vez, na crônica das Nações Unidas, uma voz feminina abriu os debates anuais — e a impetuosa emersão de povos milenarmente oprimidos como agentes ativos da História. Mahmoud Abbas, embora em nome de uma pequena nação, representou todos os povos oprimidos ao longo dos tempos. Por mais lhe neguem esse direito, a Palestina é tão antiga que entre suas fronteiras históricas nasceu um homem conhecido como Cristo.
 
O holocausto judaico, cometido pelos nazistas, e que nos horroriza até hoje, durou poucos anos; o do povo palestino, espoliado de direitos com a ocupação paulatina de suas terras, iniciada com o sionismo no fim do século 19, dura há pelo menos 63 anos, desde a criação, ex-abrupto, do Estado de Israel, em 1948. Recorde-se que a criação de um “lar nacional” para os judeus estava condicionada à sobrevivência, em segurança, do povo palestino em um estado independente.
 
A voz de Dilma, mais comedida, posto que representando nação de quase 200 milhões de pessoas no exercício de sua soberania política, teve a mesma transcendência histórica do apelo dramático de Abbas. A cambaleante comunidade internacional era chamada à sensatez política e à consciência ética. É duvidoso que ela corresponda a essa responsabilidade.
 
Do outro lado, no discurso dissimulado e ameaçador de Netanyahu e na lengalenga constrangida de Obama, ouviram-se os rugidos dos mísseis tomawaks e o remoto estrondo que destruiu as cidades de Hiroxima e Nagasáqui, em 1945. Enquanto Netanyahu balbuciava, sem nenhuma coerência, as expressões de paz, seus soldados matavam um manifestante palestino na Cisjordânia ocupada.
 
Os dois arrogantes senhores não falaram em nome dos homens; bradaram em nome das armas e dos grandes banqueiros sem pátria que, desde os Rotschild, mantêm a força contra a razão naquela região do mundo. Como muitos historiadores já apontaram, os judeus ricos, sob a liderança da poderosa família de financistas, decidiram acompanhar o ex-pangermanista Theodor Herzl, na ideia de criar um estado hebraico, a fim de se livrar da presença constrangedora dos judeus pobres na Inglaterra e na Europa Ocidental.
 
Na origem da sua independência, os Estados Unidos ouviram a constatação sensata de Tom Payne, de que contrariava o senso comum a dependência de um continente, como a América do Norte, a uma ilha, como a Grã Bretanha. O governo norte-americano é hoje refém de um estado diminuto, como Israel, representado em Washington pelos poderosos lobistas, capazes de influir sobre o Capitólio e a Casa Branca, contra as razões históricas da grande nação.
 
Ao apoiar, vigorosamente, o imediato reconhecimento, pelas Nações Unidas, da soberania do Estado Palestino, Dilma não falou apenas em nome dos países emergentes, solidários com o povo acossado e agredido, cujas terras e águas são repartidas entre os invasores; falou em nome de princípios imemoriais do humanismo. Ela pôde dar autenticidade ao seu discurso com uma biografia singular, a de uma jovem que, na resistência contra um regime criado e nutrido ideologicamente pelos norte-americanos, foi prisioneira e torturada.

A presidente disse ao mundo que estamos, os brasileiros, trabalhando para que o Estado cumpra a sua razão de ser, ao reduzir as desigualdades sociais e ampliar o mercado interno, a fim de desenvolver, com justiça, a economia nacional. Embora com a prudência da linguagem, exigida pelas circunstâncias solenes do encontro, o que Dilma disse aos grandes do mundo é que eles, no comando de seus estados, não agem em nome dos cidadãos que os elegeram, mas das grandes corporações econômicas e financeiras multinacionais, controladas por algumas dezenas de famílias do Hemisfério Norte.
 
O resultado dessa distorção são as crises recorrentes do capitalismo contemporâneo, com o desemprego, o empobrecimento crescente das nações, a insegurança coletiva e o desespero dos mais pobres. E os mais pobres não se encontram hoje apenas nos países do antigo Terceiro Mundo, mas nas maiores e orgulhosas nações. As ruas de Londres e de Nova York, de Nova Delhi e de São Paulo são caudais da mesma miséria. Daí a necessidade de que se mude o projeto de vida em nosso Planeta. Para isso é preciso que as novas nações participem efetivamente da construção do futuro do homem.
 
Outro ponto axial de seu discurso foi o da necessária e urgente reforma da Organização das Nações Unidas, para que ela se restaure na credibilidade junto aos povos. Seu sistema decisório, construído na fase crucial da reacomodação do mundo, depois da tragédia da 2ª Guerra Mundial, correspondeu a uma constelação circunstancial do poder, em que as maiores potências, possuidoras da bomba do juízo final, assumiam a responsabilidade de garantir hipotética paz, mediante o Conselho de Segurança. Contestado esse superpoder mundial pela consciência moral dos povos, desde o seu início, há quase duas décadas que se discute a sua ampliação democrática, mas sem qualquer conclusão efetiva. Dilma expressou a urgência de que isso ocorra, a fim de que o organismo possa ter a força da legitimidade política.
 
A paz, como a guerra, era, durante a Guerra Fria, um negócio a dois, e que só aos dois beneficiava. Sua disputa se fazia na periferia do sistema, a partir do conflito na Coreia, que inaugurou o sistema da divisão entre norte e sul, que se repetiria no Vietnã e em outros países.
 
Mais uma vez, no pacto Wojtyla—Reagan, a Igreja se somava ao dinheiro, para a aparente vitória do capitalismo, com a queda do muro de Berlim. Isso trouxe aos vitoriosos a ilusão de que a História chegara a seu fim, com a definitiva submissão dos pobres aos nascidos para mandar e usufruir de todos os benefícios da civilização. Como registramos, naqueles anos de Fernando Henrique, quando ele nos fez ajoelhar diante de Washington, os novos mestres do mundo se esqueceram de combinar com os adversários, como recomendou um filósofo mais atilado, o mestre Garrincha. A globalização, planejada para consolidar o condomínio dos países centrais, sob a hegemonia ianque, mediante a recolonização imperial, trouxe o efeito contrário, promoveu a unidade política dos países atingidos, e se voltou contra seus criadores. Isso explica a emersão dos Brics.
 
Foi em nome do futuro, das novas e poderosas forças humanas que se organizam, que a presidente falou em Nova York.

*Extraído do Jornal do Brasil.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

As economias

Economia, Cultura e Criatividade

Simone Amorim*

Tema muito discutido atualmente, talvez por conta da efervescência do momento de grandes expectativas de investimentos na cidade do Rio de Janeiro, a Economia Criativa tem despertado interesse de pesquisadores, empreendedores e até atenção especial do Estado. Como todo novo termo que “cai na boca do povo” são necessários esclarecimentos, já que por vezes ele tem sido confundido como sinônimo de Economia da Cultura.

A chamada Economia Criativa é aquela composta pelas indústrias criativas, isto é, todos os empreendimentos que têm como matéria-prima a criatividade, a imaginação e a inovação, não se restringindo a produtos, serviços ou tecnologias, mas englobando também processos, modelos de negócios e modelos de gestão.  

Já Economia da Cultura, poderíamos definir de forma bastante resumida e superficial, é aquele segmento da economia que se ocupa especificamente das atividades organizativas – e produtivas – em torno da Cultura. Seus bens, equipamentos, atividades etc.

Dada a abrangência dos conceitos, a tendência é designar, separadamente, “Indústrias Criativas” e “Indústrias Culturais”, com a finalidade de deixar claro o significado e conteúdo de cada expressão. É sutil a diferença, principalmente porque os bens de cultura pressupõem criatividade, e não necessariamente tudo que é produzido pelas indústrias criativas pode ser caracterizado como um produto cultural, no sentido mais específico do termo.

Neste caso teríamos que ter em mente uma definição bastante consensual do que se entende por Cultura – e aí, os especialistas no tema concordarão que estamos longe de chegar a um consenso. O mais próximo que chegamos disso é adjetivar o campo formulador do conceito, assim temos o conceito sociológico de cultura, o antropológico, a perspectiva das políticas culturais etc.

Em resumo, o campo da criatividade abarcaria o design, a publicidade, a moda, os jogos eletrônicos etc. nesse sentido o jingle de uma propaganda, um website de relacionamento, uma mostra de design de mobiliário de baixo custo, ou ambientalmente alternativo, etc. são exemplos das indústrias criativas. Já as indústrias culturais (o termo não é muito comum, apesar de ser utilizado por alguns autores, justamente por pressupor que as atividades em trono da cultura não são 100% adaptáveis à lógica produtiva) seriam compostas pelos museus, o cinema, os eventos de cultura local nas comunidades como Folia de Reis, Carnaval, as festas católicas etc. Essas atividades geram emprego, movimentam recursos e mobilizam público e por muito tempo foram desconsideradas pela economia até que se percebeu que são responsáveis por parte considerável do PIB dos países.

O histórico do termo e uma reflexão aprofundada do assunto podem ser pesquisados em duas boas obras de referência disponíveis em português: A Economia da Cultura, da economista francesa Françoise Benhamou e Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável, da Administradora brasileira, Ana Carla Fonseca Reis.

Esperamos que o Rio de Janeiro não perca a oportunidade de aproveitar a boa maré de investimentos e além de atrair muitos criativos para a cidade, ainda consiga estruturar o segmento cultural  de forma a contribuir com o desenvolvimento econômico e social da cidade.

*Gestora cultural, mestre em bens culturais e projetos sociais

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Gestão e sustentabilidade

O VI ENCAD e a sustentabilidade I

Daniel Roedel

Como parte das comemorações do Dia do Administrador, no último dia 9 o CRA-RJ realizou o VI Encontro dos Administradores do Rio de Janeiro (ENCAD). Como membro da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho tive oportunidade de participar do painel de abertura, cujo tema abordou "Gestão, Sustentabilidade e Resultados".

Minha reflexão inicial se concentrou na seguinte questão: é possível compatibilizarmos sustentabilidade e gestão empresarial?  Se considerarmos os rumos atuais que a gestão vem assumindo dentro da intensificação competitiva, ela pode apontar mais um impasse do que uma perspectiva de contribuição da Administração com o desenvolvimento sustentável.

Além disso, este ano completam 100 anos de uma obra de referência no pensamento e na ação administrativa; trata-se do livro de Frederick Winslow Taylor, Princípios de Administração Científica, cuja racionalidade econômica ainda hoje orienta a formação de administradores. Muitos de nós aprendemos que os princípios preconizados por Taylor eram científicos e, portanto, poderiam ser replicados em qualquer situação. Em grande parte de sua abordagem foi desconsiderada a ideologia ali embutida, isentando-se a prática da administração de um compromisso político com os conflitos na relação capital X trabalho.

Embora tenha enfrentado fortes resistências no movimento operário ocidental à época o Taylorismo foi adotado na nascente União Soviética, ou seja, após a vitória da revolução socialista. O êxito desse Movimento da Administração Científica foi favorecido pela necessidade de rápida expansão e internacionalização dos mercados e contribuiu para o crescimento econômico e o fortalecimento da indústria. A administração e sua ênfase na eficiência econômica gradativamente se legitimou e ampliou seu campo de atuação.

Mas e agora? Estamos numa época em que cada vez mais se questiona e constata o esgotamento de uma eficiência eminentemente econômica. Tanto pelos problemas ambientais decorrentes quanto pela precarização das condições sociais de trabalhadores e do entorno das empresas. A intensificação da eficiência e produtividade em bases estritamente econômicas tem acelerado problemas e evidenciado que a propagada excelência da gestão não universaliza suas práticas sendo, portanto, sempre excludente num processo que pode ser considerado darwinismo empresarial.

É claro que não se pretende imputar a Taylor e seus princípios a responsabilidade pelo atual estado de precariedade socioambiental. Antes dele, Karl Marx já alertava para esse caráter racional e intenso de exploração econômica sob o capitalismo.

O que cabe a nós Administradores é tentar refletir sobre os desdobramentos da prática dominante de gestão atual e propor um outro modo que efetivamente equilibre os resultados econômicos com a mitigação de problemas ambientais e que promovam a justiça social. Tudo isso num contexto em que os desastres ambientais decorrentes de atividades empresariais se multiplicam e o trabalho análogo à condição de escravidão é amplamente denunciado.

E isso é possível? Foi o que tentamos apresentar no evento e que resumiremos neste espaço nas próximas semanas!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Cidadania

Cultura e democracia

Simone Amorim*

A Carta Aberta transcrita a seguir vem se somar ao coro das muitas insatisfações dos militantes da Cultura com o MinC, desta vez com a possibilidade de participação da sociedade civil na Política Cultural brasileira.

Acreditamos que só a partir de uma participação efetiva de todas as partes envolvidas na esfera pública, poderemos construir de fato uma democracia forte, posto que lastreada nos interesses de toda uma coletividade atuante.

As questões caras à Cultura têm sido sistematicamente esvaziadas em suas instâncias de discussão, onde cada vez menos cidadãos têm tomado voz e feito valer o interesse dos muitos grupos locais que se vêem alijados da construção das Políticas do setor.
Essa talvez seja uma boa oportunidade para que nossos leitores parem e pensem sobre o assunto, e, caso concordem com as reivindicações, subscrevam à Carta Aberta.

*MSc em Bens Culturais e Projetos Sociais
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04 de setembro de 2011

PAÍS RICO É PAÍS COM CULTURA!

Carta Aberta da Sociedade Civil sobre a Crise do MinC

PAÍS RICO É PAÍS COM CULTURA!  Brasília , 3 de setembro de 2011

O povo brasileiro tomou nas urnas a decisão de construir um país rico, soberano e democrático.

A cultura do Brasil, seus produtores e agentes em sua mais rica diversidade, se engajou desde o começo do governo Lula no projeto de universalização do conhecimento, do acesso à produção de bens culturais e na distribuição do poder simbólico, econômico e político. Em outras palavras: construir agora o Brasil do futuro, apostando no desenvolvimento e na inclusão, contando com a “inteligência popular brasileira” e a imaginação dos povos dos Brasis.

Por isso, durante os dois governos Lula, a sociedade civil organizada, os coletivos e redes, produtores e agentes estabeleceram uma inédita e saudável relação com o governo no sentido de construir um projeto de cultura para o Estado Brasileiro. A herança maior das duas últimas gestões à frente do MinC é a constituição de uma rede imensa e capilar que vai dos mestres da cultura popular aos hackers.

Durante o governo Lula estas redes não foram apenas atendidas pelas políticas públicas, senão que tornaram-se os sujeitos do processo, fazedores de cultura e de país. Tal legado é patrimônio de todos aqueles que lutaram pelo projeto de nação encabeçado por Dilma Rouseff.

A Crise Estrutural do MinC

Passados 8 meses de governo, segue a crise do MinC, cujo último episódio foi a saída da Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, e as ameaças de novas demissões e desentendimentos.

A sociedade civil organizada, produtores e agentes culturais, parlamentares, ativistas de dentro e de fora do campo cultural, entendem que esta é a hora de uma correção de rumo  no Ministério da Cultura.

É necessário uma repactuação com os movimentos culturais que construíram e deram apoio à política pública de cultura gestada no governo Lula e sua continuidade, avanço e ampliação no governo que elegemos. Não podemos mais aceitar que as conquistas e avanços da sociedade brasileira no campo cultural, chanceladas pela sociedade civil e pelo Estado e tornadas públicas no Plano Nacional de Cultura continuem a ser desrespeitadas e ignoradas.

País rico é país com democracia participativa e por isso não podemos aceitar o rompimento do diálogo construído com os movimentos e agentes em gestão compartilhada nos 8 anos do governo Lula.  Estes mesmos avanços nos últimos 8 meses do governo Dilma  Roussef sofreram retrocessos ou estão paralisados, diante da crise de legitimidade e confiança na qual se vê submerso o MinC.

Os movimentos  culturais organizados estão buscando há 8 meses a retomada da experiência de co-gestão e participação da sociedade civil nos rumos da Cultura.

Todos os esforços estão sendo feitos para essa repactuação, por isso reivindicamos que as novas mudanças sejam debatidas e consultadas de forma franca e ampla junto aos movimentos culturais que estiveram durante esses últimos meses e nestes 3 dias de agosto e inicio de setembro reunidos em Brasília, em diálogo direto com todas as Secretarias do Ministério da Cultura (com exceção da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural, demissionária).

Destacamos os pontos fundamentais defendidos por diferentes movimentos, que vem sendo debatidos desde a primeira crise do MinC:

- A implementação do Plano Nacional de Cultura aprovado pelo governo Lula;

- A aprovação da PEC 150 e do Procultura como enviados para o Congresso;

- A publicização do texto final da Reforma da Lei dos Direitos Autorais e seu envio ao Congresso, mantendo-se os avanços propostos pela sociedade em consulta pública; entre eles a fiscalização de instituições como o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), e a criação de Instituto ou Agência Reguladora na área de direitos autorais, estímulo a produção de conteúdos culturais, educacionais abertos, descriminzalização da cópia e o estímulo ao uso de licenças flexíveis, como o Creative Commons;

- A defesa do Programa Cultura Viva, a manutenção dos 3 mil Pontos e Pontões de Cultura e suas ações. O pagamento de todos os Editais, pagamento das Bolsas de Incentivo Griô, Renovações dos convênios de Pontos e Pontões, a manutenção e expansão da Rede dos Pontos de Cultura, a contemplação de novas redes e a definição de um novo marco legal;

- Retomada do protagonismo nacional e internacional em Cultura Digital, conquistado pelo MinC, no governo Lula;

- Retomada dos programas de Diversidade Cultural, abandonados nesta gestão;

-  Aprovação da Lei Cultura Viva, Aprovação da Lei dos Mestres e Lei Griô;

- A Revisão da proposta orçamentária para o Minc em avaliação no Congresso Nacional, que canaliza grande parte das verbas da cultura para obras e infra-estrutura, inviabilizando as demais ações do Programa Cultura Viva (rede dos Pontos de Cultura, Ação Cultura Digital, etc.) de forma desproporcional e assimétrica;

- Defendemos também o maior diálogo do Ministério da Cultura, com nossa participação, em  ações transversais com os demais ministérios, particularmente com o MEC, Ministério das Comunicações, Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Trabalho e em ações como a do Plano Nacional de Banda Larga.

O MinC somos nós e  nosso compromisso é com o viável e com o possível.

Por tudo isso, solicitamos à Presidenta Dilma Roussef, aos parlamentares, ativistas, sociedade civil e movimentos culturais e sociais que juntos possamos estancar as crises sucessivas no Ministério da Cultura, para repactuarmos o compromisso assumido entre o Estado brasileiro, os movimentos culturais e a sociedade civil de um projeto de continuidade, inovação e avanços na cultura brasileira que esteja à altura do papel que o Brasil assumiu como protagonista e referência na cena global em termos de políticas culturais inovadoras.

É preciso que nos unamos ao redor de um projeto no qual a cultura seja convocada de fato a cumprir sua vocação de inventora de futuro, desenvolvimento, soberania, sustentabilidade, democracia e inclusão social.

É preciso confiança na Cultura Brasileira!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Dia do Administrador

Gestão, sustentabilidade e resultados






Administração e Sustentabilidade

A Sustentabilidade e o ensino da Administração


Daniel Roedel

No dia 24 de agosto tive a oportunidade de participar do debate sobre o ensino de Administração e a Sustentabilidade, temas que têm sido amplamente abordados neste blog. O evento foi uma iniciativa do CFA e do CRA-RJ, conduzido pela sua Comissão de Desenvolvimento Sustentável.

Brevemente o programa estará disponível na TV web do CRA. Para acesso imediato ao áudio clique em Plataforma.

O tema será retomado durante o evento do dia do Administrador, que será realizado no Windsor Guanabara Hotel. Participarei junto com outros membros da CDS do painel "Política de desenvolvimento sustentável: ação local e visão global".