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Há poderes corruptos e outros não. Absolutizar é fazer o jogo dos que querem governos e Estados fracos, como os monopólios privados da mídia. Como dizer que “político é corrupto”, que “partidos são tudo a mesma coisa”, que “as pessoas não prestam”, que “todo mundo é egoísta”, “que o mundo não tem jeito”, “que as coisas estão cada vez pior no Brasil e no mundo”.
O senso comum costuma ser a representação popular de grandes preconceitos. Aparece como “verdades” evidentes por si mesmas, que nem precisam demonstração. E camuflam valores muito reacionários. Para isso, precisam naturalizar as coisas, tirando seu caráter histórico.
O poder da ditadura, o do Collor, o do FHC e o do Lula são iguais? Basta se chegar ao poder, para alguém se tornar corrupto? O poder de uma grande potência imperialista, como os EUA, é mais ou menos corrupto que o poder de um país da periferia? O poder de um grande conglomerado econômico transnacional é maior ou menor do que o dos governos?
Uma ONG internacional publica anualmente o ranking do que seriam os governos mais corruptos do mundo. Um deles colocou o o Haiti entre os lideres. Será que o governo do Haiti é mais ou menos corrupto que o governo dos EUA?
Mas o principal problema dessa lista é que ela lista os corruptos, mas não os corruptores, que certamente estão entre as grandes corporações multinacionais. Mas se trata de uma ONG, busca criminalizar os governos e, por dedução, absolver as empresas privadas.
Essa visão criminalizadora da política e do poder sugere que as pessoas são “boas” na “sociedade civil” e quando “entram” para o Estado, para a política, se corrompem. É a visão que sustenta a opinião, tão disseminada, de “quanto menos imposto se paga, melhor”, de que “o seu imposto está sustentando aos burocratas”, etc.
Do que se trata é de historicizar o tema. Há poderes e poderes. Todos eles têm natureza de classe. Mas mesmo nesse marco, há poderes assentados diretamente em organizações populares, em dirigentes com compromisso ideológico com os processos de transformação profunda da realidade.
Senão contribuiríamos para a rejeição da política, deixando para que ela seja feita justamente pelos políticos tradicionais, acostumados a tirar proveitos do Estado e dos governos, a desmoralizar a política.
SUGESTÕES DE LEITURA
- MEXICO INSURGENTE
John Reed
Boitempo Editorial
- AS GAROTAS DA FÁBRICA
Leslie T. Chang
Editora Intrinseca
- VITÓRIA
Joseph Conrad
Editora Revan
*Extraído de Carta Maior. Para acesso clique em Carta.
Reflexão
A primeira impressão, outras impressões, inúmeras impressões dialogam através do olho do artista, estabelecendo uma sutil rede de conexões entre a materialidade do objeto , a ambigüidade da luz e da cor, o dito e o não-dito, o que grita e o que se retrai.
A arte, esse campo aberto onde o encontro de todos os tons, consonantes e dissonantes, se torna possível, rege, com mestria (mestria que não só da técnica, mas uma outra, mais obscura) a formação de uma pele – profunda e instigante superfície – que palpita.
Antonio Martins
O desfecho da disputa que Estados Unidos e Irã travam, em torno da energia nuclear, tornou-se imprevisível, após uma série de reviravoltas diplomáticas. Tão logo Brasil e Turquia anunciaram, em 16 de maio, um acordo que cria espaço para entendimento, a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, saiu a campo para bombardear a iniciativa. Na manhã desta terça-feira (18/5), ela anunciou, no Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA, ter costurado com Rússia e China um rascunho de resolução contra Teerã, a ser submetido ao Conselho de Segurança da ONU. Apesar de ter adesão aparente dos cinco membros-permanentes do conselho, a aprovação desta proposta é incerta. Tanto a articulação brasileiro-turca quanto a resposta-relâmpago do governo Obama são fatos novos e surpreendentes, que ajudam a revelar traços da conjuntura global que se abre na virada da década.
Revelado no final da noite de segunda-feira, o texto anunciado por Hillary é, como afirmou a própria secretária, particularmente “duro”. As sanções previstas transformam o Irã, na prática, num Estado-pária. Fica proibido de construir instalações de enriquecimento de urânio (algo que o Tratado de Não-Proliferação Nuclear – TNP – considera um direito de qualquer país). É interditado de atividades banais (como a mineração de urânio). As nações são impedidas de vender-lhe oito tipos de armamentos convencionais (os mesmos oferecidos a todos os seus vizinhos), e mesmo de fornecer assistência técnica e treinamento militares.
Estabelecem-se, além disso, constrangimentos humilhantes. Barcos com destino ao Irã podem ser inspecionados
A proposta de Hillary obriga os EUA a renegar posições já assumidas, afronta possíveis aliados e tende a ampliar a oposição e o ressentimento contra Washington, em especial no mundo árabe. Os compromissos que que Brasil e Turquia convenceram o Irã a assumir são, em essência, idênticos ao que os EUA exigiam de Teerã, em outubro último. Brasília e Ancara apostaram que, na condição de países do Sul, não-hostis ao Irã, teriam maiores chances de obter um compromisso. Esta tentativa foi comunicada previamente à Casa Branca – que a encorajou, em palavras.
Ao renegar esta atitude, Washington sugere que não desejava, no ano passado, um entendimento: fazia apenas uma provocação. Ainda mais porque as novas ameaças contrastam com o prolongado apoio norte-americano a Israel – que mantém e desenvolve armas nucleares e se recusa a assinar o TNP.
Na manhã de quarta-feira (19/5), surgiram, aliás, os primeiros sinais de que a tramitação do texto, no Conselho de Segurança, poderá ser lenta, complexa e desgastante para os EUA. Embora admitisse que seu país participou da redação do esboço de Hillary, o embaixador chinês na ONU, Li Badong, fez ressalvas. “Fazer circular este rascunho não significa que as portas para a diplomacia estão fechadas (…) Acreditamos que o diálogo, a diplomacia e as negociações são a melhor maneira de lidar com a questão iraniana”.
Brasil e Turquia mantiveram-se firmes, anunciando que enviarão ao Conselho de Segurança um relato de suas gestões, que julgam suficientes para colocar o debate em novo tom. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, afirmou que, após os sinais de boa-vontade emitidos por Teerã “não há nenhum motivo para manter uma linha de pressões e sanções”.
Na própria sociedade norte-americana, não parece haver unanimidade em favor da postura de ameaças e confrontos. Na manhã de quarta-feira (19/5), uma ampla maioria dos leitores do New York Times pronunciava-se de forma francamente crítica à nova cartada da Casa Branca. O jornal elogiou Hillary Clinton
Nove votos, entre os quinze países que compõem o Conselho de Segurança, são necessários para aprovar sanções. Há enormes probabilidades de que Brasil, Turquia e Líbano rejeitem a resolução articulada pelos EUA. Ainda que os cinco membros permanentes confirmem adesão à proposta de Hillary, será preciso cabalar mais quatro apoios, entre os sete integrantes que faltam (Áustria, Bósnia, Gabão, Japão, México, Nigéria e Uganda). O sucesso é duvidoso. A maior parte dos que se atrevem a fazer previsões imaginam que as negociações deverão se estender até julho.
Por que, então, a sofisticada Hillary Clinton agiu tão brusca e rudemente? Dois textos publicados
*Extraído de Outras Palavaras. Para acesso completo clique em Diplô.
Conhecimento: patrimônio público ou apropriação privada*
O Estado e as forças naturais*
Mas denunciar a manipulação não deveria levar os que admiram a independência de Cuba a menosprezar as dificuldades da ilha – nem a pensar que a trajetória seguida nos últimos cinquenta anos pode continuar a ser trilhada sem mudanças. Alguns artigos recentes, publicados em Le Monde Diplomatique, ajudam a debater problemas e alternativas.
Escrito em 2007, pouco após a substituição de Fidel por Raúl Castro, “Encruzilhada em Havana, de Pablo Stefanoni, reporta que, àquela altura, o pior da crise que se seguiu ao fim do “campo socialista” havia passado. Já não se sofria com "apagões" diários; as lojas ofereciam algum sortimento de eletrodomésticos; o petróleo oferecido pela Venezuela, em regime de escambo, completava a produção interna (equivalente a 50% do consumo), sem exigir o pagamento de divisas.
Ainda assim havia, além enorme ineficiência econômica, graves problemas sociais e políticos. Frequentemente ouvida nas ruas, a frase “o governo finge que nos paga e nós fingimos que trabalhamos” expressava o desencanto com um sistema de produção que não havia superado o dirigismo estatal. A existência de um duplo sistema de moedas (pesos desvalorizados para as maiorias, dólares para os setores em contato direto com turistas) mantinha e ampliava as desigualdades. O poder resistia a tentativas de uma democratização ampla, o que produzia episódios como a “revolução dos emails”.
À mesma época, Carlos Gabetta, diretor da edição argentina do Le Monde Diplomatique, discutia, em “Cuba, hora de mudanças”, as alternativas. Ele frisava, primeiro, um dado positivo: os dirigentes e intelectuais cubanos têm plena consciência dos três graves problemas que marcaram o “socialismo real” e foram herdados pela formação contemporânea de seu país: o regime de partido único, a ausência de pluralismo de opinião verdadeiro e a centralização completa da economia, nas mãos do Estado e do partido comunista. Por isso (e ao contrário do que ocorreu no Leste Europeu), há, pensa Gabetta, a possibilidade de uma transição que não signifique mero retorno ao capitalismo.
Esta opção prevalecerá? Quem aborda o tema é Stefanoni – e ele tem dúvidas. Segundo suas observações, os dirigentes cubanos, de quem dependerá em boa parte a resposta, dividem-se entre duas posições. A primeira equivale a algo como uma “saída à chinesa”: mais liberdade econômica, forte estímulo às empresas privadas mas... manutenção do controle rígido do partido comunista sobre o poder. A segunda, cuja força estaria crescento especialmente entre setores não diretamente ligados ao Estado, seria uma tentativa de aproximação com as experiências políticas em curso na América Latina. Nesta hipótese, a transição – certamente difícil e arriscada – significaria deixar para trás o modelo de partido único, abrir-se a uma ampla democratização e estimular o surgimento de uma sociedade civil crítica e forte. Mas não equivaleria a reforçar as relações capitalistas (Antonio Martins).
Além destes dois textos, densos e estimulantes, é possível encontrar, na Biblioteca Diplô vasto material sobre Cuba, China e os balanços do “socialismo real”.
A reforma sanitária dos Estados Unidos*
Fidel Castro
BARACK Obama é um fanático crente do sistema capitalista imperialista imposto pelos Estados Unidos ao mundo. "Deus abençoa os Estados Unidos", conclui seus discursos.
Alguns de seus fatos feriram a sensibilidade da opinião mundial, que viu com simpatias a vitória do cidadão afro-americano frente ao candidato de extrema direita desse país. Apoiando-se numa das mais profundas crises econômicas que conheceu o mundo, e na dor causada pelos jovens norte-americanos que morreram ou foram feridos ou mutilados nas guerras genocidas de conquistas de seu predecessor, obteve os votos da maioria de 50% dos norte-americanos que acodem às urnas nesse democrático país.
Por elementar sentido ético, Obama deveu abster-se de aceitar o Prêmio Nobel da Paz, quando já tinha decidido o envio de 40 mil soldados a uma guerra absurda no coração da Ásia.
A política militarista, o saque dos recursos naturais, o intercâmbio desigual da atual administração com os países pobres do Terceiro Mundo, em nada se diferencia da de seus antecessores, quase todos da extrema direita, com algumas exceções, ao longo do século passado.
O documento antidemocrático imposto na Cúpula de Copenhague à comunidade internacional — que acreditara na sua promessa de cooperar na luta contra a mudança climática — foi outro dos fatos que desenganaram muitas pessoas no mundo. Os Estados Unidos, o país maior emissor de gases de efeito estufa, não estavam dispostos a realizar os sacrifícios necessários, apesar das palavras lisonjeiras prévias de seu presidente.
Seria interminável a lista de contradições entre as ideias que a nação cubana defende com grandes sacrifícios durante medio século e a política egoísta desse império colossal.
Apesar disso, não sentimos nenhuma animadversão por Obama, e muito menos pelo povo dos Estados Unidos. Consideramos que a Reforma da Saúde constitui uma importante batalha e um sucesso de seu governo. Não obstante, parece algo realmente insólito que 234 anos depois da Declaração de Independência, na Filadélfia, em 1776, inspirada nas ideias enciclopedistas francesas, o governo desse país aprovasse o atendimento médico para a imensa maioria de seus cidadãos, coisa que Cuba conseguiu para toda sua população há mais de meio século, apesar do cruel e desumano bloqueio imposto e ainda vigente por parte do país mais poderoso que jamais existiu. Antes, depois de quase um século de independência e sangrenta guerra, Abraham Lincoln conseguiu a liberdade legal dos escravos.
Não posso, por outro lado, deixar de pensar num mundo onde mais de um terço da população não tem atendimento médico e os medicamentos essenciais para garantir sua saúde, situação que se agravará na medida em que a mudança climática, a escassez de água e de alimentos sejam maiores, num mundo globalizado onde a população cresce, os bosques desaparecem, a terra agrícola diminui, o ar se torna irrespirável, e a espécie humana que o habita — que emergiu há menos de 200 mil anos, ou seja 3,5 bilhões de anos depois que surgiram as primeira formas de vida no planeta — corre o risco real de desaparecer como espécie.
Admitindo que a reforma sanitária significa um sucesso para o governo de Obama, o atual presidente dos Estados Unidos não pode ignorar que a mudança climática significa uma ameça para a saúde e, pior ainda, para a própria existência de todas as nações do mundo, quando o aumento da temperatura — além dos limites críticos que são visíveis— dilua as águas gélidas das calotas polares, e dezenas de milhões de quilômetros cúbicos armazenados nas enormes camadas de gelo acumuladas na Antártida, Groenlândia e Sibéria degelem numas poucas dezenas de anos, inundando todas as instalações portuárias do mundo e as terras onde hoje vive, se alimenta e trabalha grande parte da população mundial.
Obama, os líderes dos países ricos e seus aliados, seus cientistas e centros sofisticados de pesquisas sabem disso; é imposível que o ignorem.
“O espaço é formado por dois componentes que interagem continuamente: a) a configuração territorial, isto é, o conjunto de dados naturais, mais ou menos modificados pela ação consciente do homem, através de sucessivo ‘sistemas de engenharia’; e b) a dinâmica social ou o conjunto de relações que definem uma sociedade em dado momento” [2].