quinta-feira, 2 de junho de 2016

Resenha

Crise Política: o futuro numa encruzilhada


Simone Amorim*

Em texto produzido ao final de 2015 e publicado recentemente pela Editora Civilização Brasileira (Impasses da Democracia no Brasil, 2016), o cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, analisa limites do processo democrático vivenciado há trinta anos no Brasil, assumindo a conclusão de que chegamos ao fim do ciclo iniciado com a redemocratização brasileira ocorrida na década de 1980.

Entre os principais fatores que caracterizariam o impasse político, figurariam três principais entraves ao amadurecimento das conquistas democráticas garantidas pela constituição de 1988: os limites do presidencialismo de coalização e a consequente judicialização da política, que têm minado a governabilidade do poder executivo; os limites da participação social, institucionalizada ou não, destacando a necessidade de ampliação desta a setores estratégicos, nos quais ainda se percebe um vácuo de participação, como por exemplo o setor de infra-estrutura; e, ainda, o combate à corrupção no sistema político, que atuaria na corrosão desses dois fatores inicialmente destacados.

A corrupção atua duplamente, minando a possibilidade de governabilidade do poder executivo no modelo de presidencialismo de coalizão vigente no país, e tendo sido capturada pelos meios de comunicação que conformam a opinião pública, reintroduzindo um vigor participativo de tipo novo desde junho de 2013, na medida em que traz de volta às arenas participativas, setores que historicamente haviam se distanciado do espaço público (físico e virtual). Desse modo, conduz o tema numa perspectiva conservadora e superficial, engajada essencialmente em polarizações e que tem como resultado mais efetivo o enfraquecimento da democracia brasileira e das estruturas pluralistas vivenciadas no processo democrático.

O autor pontua o papel central da classe média, capturada pelo discurso midiatizado da corrupção, que passou de uma agenda positiva (no início das manifestações de junho de 2013, contra os aumentos das tarifas de transporte coletivo, o descaso da educação e da saúde públicas etc) para uma agenda negativa em relação à democracia. Em sua visão “é preciso criar novamente uma agenda positiva capaz de unir os setores que correm o risco de disputar maioria e capacidade de mobilização nas ruas. Um dos pontos desta agenda pode ser a ampliação dos direitos sociais e dos serviços ligados à saúde e educação, que é um dos poucos itens da agenda social do governo a que a classe média não se opõe”.

A análise de Avritzer, embora não aprofundada e muito pouco propositiva, destaca pontos importantes da situação atual do país, que em poucos dias viverá desfechos com impactos profundos nas próximas décadas. Portanto, o elenco de argumentos destacados pelo autor provoca o início de um debate que deve ter como ponto central o projeto de país que defenderemos e o limite inegociável  através do qual não se pode ultrapassar, sob pena de desmontar toda a estrutura de direitos conquistados em nossa recentíssima democracia.


*Gestora Cultural, Doutoranda em Políticas Públicas e Formação Humana (UERJ), Conselheira Municipal de Cultura do Rio de Janeiro (Economia da Cultura)