quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sociedade da informação?

Pensar dói?*

Thomaz Wood Jr

Em texto publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias. Gabler é o autor, entre outras obras, de Vida, o Filme (Companhia das Letras), no qual afirma que, durante décadas de bombardeio pelos meios de comunicação, a distinção entre ficção e realidade foi sendo abolida. O livro tem o significativo subtítulo: Como o entretenimento conquistou a realidade.

No texto atual, Gabler troca o foco do entretenimento para a informação. Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx.

Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém estamos retrocedendo, trocando modos avançados de pensamento por modos primitivos.

Gabler critica o afastamento das universidades do mundo real, operando como grandes burocracias e valorizando o trabalho hiperespecializado em detrimento da ousadia. Critica também o culto da mídia por pseudoespecialistas, que defendem ideias pretensamente impactantes, porém inócuas.

No entanto, o autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o excesso de informações. Antes, nós coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.

Assim, somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.

As novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

O mesmo fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados, concorrentes e clientes. Seu comportamento é o mesmo no mundo virtual e no mundo real: eles navegam pela internet como navegam por reuniões de negócios. Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa, repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido.

O futuro aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência para a sociedade, segundo Gabler, é a desvalorização das ideias, dos pensadores e da ciência. A considerar a velocidade com que livros e outros textos estão sendo digitalizados e disponibilizados na internet, estamos no limiar de ter todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor. O problema é que, quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas.

Pode-se acusar o ensaísta de nostalgia infundada ou ludismo. Porém, ele não está só. Felizmente, há sempre um grupo de livres pensadores a se colocar contra o conformismo massacrante das modas tecnológicas e comportamentais, nesta e em outras eras.

*Extraído de Carta Capital

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Jorge Amado

RIO -54
Simone Amorim*

A última semana ocupou os cariocas de informações e deformações que circularam abundantes pela cidade. A Rio + 20 termina com a definição de um acordo que expresse o teor das preocupações das nações acerca do desenvolvimento pretendido para os próximos anos. Pretendido ou praticado, o saldo das conversações não aponta para um consenso nas estratégias dos que podem muito e fazem pouco com aquelas dos que podem pouco e fazem quase nada.

Na condição de espectadora daquelas que parecem ser as únicas com razoável rapidez de fluxo pela cidade esses dias – as ideias – destaco um fato ocorrido nesta semana, que dentre todos os outros, na minha opinião merece grande destaque, inclusive, pelo poder de ilustrar alguns outros: Gabriela, cravo e canela. A readaptação para a TV, do romance escrito há 54 anos pelo baiano Jorge Amado.

A obra desde que lançada, em 1958, é sucesso em todo o mundo, já tendo sido traduzida para centenas de países; o folhetim para TV, iniciado esta semana descreve com tanto sucesso a trama riquíssima composta pelo escritor que ao assistir nos vemos nós mesmos na Bahia da década de 1920 onde a trama se desenrola. A trilha sonora original da primeira adaptação para a TV (1975) encarrega-se desse transporte entre os dois mundos. Primoroso trabalho de cor, som, imagem, texto.

É aqui que proponho uma estratégia alternativa, já que não chegamos ao sublimado consenso: no lugar de debatermos o futuro do planeta, proponho arrumarmos as malas e voltarmos todos ao engenhoso universo do passado local concebido por Jorge Amado. Ao universo onde a cultura e os costumes do local – mutante, como veremos ao desenrolar da trama – tem tons, cheiros, conflitos e soluções locais. Um passado onde o convívio na cidade é um espaço privilegiado de trocas e as pessoas são os grandes protagonistas da História. Um passado sem essa história de salvar a natureza e o ambiente, mas de desenvolvimento humano, social e cultural.

E para fechar, as palavras do grande mestre Celso Furtado, estampadas em uma das muitas idéias circulantes pela cidade esta semana: “Se a política de desenvolvimento objetiva enriquecer a vida dos homens, seu ponto de partida terá que ser a percepção dos fins, dos objetivos que se propõem alcançar os indivíduos e a comunidade. Portanto a dimensão cultural dessa política deverá prevalecer sobre todas as demais”.

Ai que falta os Jorges, Celsos e tantos outros fazem nessas horas...

*MSc em Bens Culturais e Projetos Sociais, Gestora Cultural, consultora da Plurimus Consultoria

Desenvolvimento sustentável

Pnuma vai à Cúpula dos Povos e ouve críticas à Economia verde*

Vinicius Mansur 

O diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner, esteve na noite deste sábado (16) na Cúpula dos Povos para um “Diálogo sobre Economia Verde” com os movimentos e organizações sociais e ouviu uma saraivada de críticas ao conceito do qual é o principal formulador.

Steiner primeiro ouviu as intervenções das organizações sociais. A representante da articulação Carta de Belém e integrante da ONG Terra de Direitos, Larissa Packer, criticou o fato da economia verde propor a valoração econômica da biodiversidade e a regulamentação dos direitos de propriedade sobre bens comuns como únicas saídas para o uso sustentável e a conservação da natureza. “Vamos transferir a tutela ambiental par ao mercado?”, indagou.

Segundo a especialista, a economia verde, ao mesmo tempo em que induz à privatização de bens comuns como a água e ar, está tratando de criar uma série de mecanismos para transformar a não-degradação do meio ambiente em serviços e em capital fictício a ser negociado no mercado financeiro. Desta forma, a decisão de prosseguir ou não com as atividades econômicas de impacto ambiental serão regidas pelo critério do lucro ainda mais perverso. “Quanto mais o agronegócio avança sob os territórios, menos árvores eu tenho. Quanto mais escassez se produz, maior valor meu título terá”, exemplificou.

Resposta

Em resposta, Steiner disse que existem muitas interpretações sobre o que é economia verde e que o relatório do Pnuma não defende em momento algum o abandono da gestão dos recursos naturais ao mercado. “O relatório como um todo é uma crítica. Estamos dizendo que se a oferta e a procura é a única lei com a qual podemos administrar o mundo, não vamos resolver os nossos problemas”, contestou.

O diretor do Pnuma pediu para que a noção de economia verde não fosse colocada “na mesma panela” daqueles que defendem com ardor a economia capitalista e o mercado totalmente livre e salientou que para chegar ao coração do problema é preciso falar de economia e ter claro que “o mercado não é algo que acontece em Nova Iorque, fazem parte de nossas vidas, são construções sociais”.

Steiner também chamou atenção para as dificuldades de se construir um consenso entre 200 nações em um contexto em que o pensamento dominante em todas elas tem o crescimento como o critério dominante para as políticas. “Nós elegemos quem está no poder, compramos seus produtos, então legitimamos sua política (...) Queremos que as pessoas comecem a ver o que o desenvolvimento de outra maneira”.

Mais questionamentos 

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, disse que o desenvolvimento sustentável tem três pilares – o social, o ambiental e o econômico -, mas desde a conferência do Rio em 1992, só se fala no econômico. O sindicalista afirmou que discutir os três pilares significa falar em mudança de modelo de produção e consumo e cobrou de Steiner presença destas palavras no relatório do Pnuma. “Se temos que mudar de modelo, precisamos de financiamento. Mas não tem dinheiro para mudar o modelo e tem dinheiro para salvar banco. Não tem bilhões de dólares para salvar humanos. O que é mais importante do que construir esse novo modelo de desenvolvimento sustentável?”, cutucou.

Henrique também cobrou que os trabalhadores não sejam só ouvidos pelos organismos internacionais, mas que participem de fato das decisões. “Se não for mais produzir carro, nós temos que discutir com os trabalhadores dessa atividade como eles serão requalificados para em 20 anos estar trabalhando em outros setores”, exemplificou.

O presidente da CUT ainda lembrou a Steiner que os governantes de muitos países são eleitos através do financiamento dado pelos 5% das pessoas que possuem 58% da riqueza do mundo e que, quando se cobra que os movimentos tem que fazer valer a sua voz, há de se considerar que eles não tem os meios de comunicação para fazer a disputa na mesma condição.

Bolha financeira

O ex-embaixador da Bolívia na ONU, Pablon Solon, deu continuidade às críticas à Steiner, e disse que ele não estava admitindo ali as ideias que prega através da economia verde. ”Para que querem quantificar a quantidade de emissões carbono? Para emitir crédito de carbono. Assim darão permissão para poluição, justificado pela compra dos bônus. Assim vamos restabelecer o equilíbrio ou vai ter outro efeito mais permissivo? Muitos começam a desmatar para estar em melhores condições para reduzir depois”, disse.

Para Solon, propostas como o mercado de carbono levarão a uma bolha financeira muito mais complicada do que a já existente e responsável pela crise financeira atual. Ele também criticou o fato do relatório do Pnuma incluir como experiências exitosas de sustentabilidade a privatização de recursos naturais na Austrália e em Israel, mas não mencionar nada sobre casos como o da Bolívia, onde o controle da água foi retomado das mãos de empresas transnacionais.

O boliviano sustentou que outro modelo de desenvolvimento só será possível se não baseado no lucro e na crença do crescimento eterno. “Necessitamos distribuir a riqueza que está injustamente. Porque não estabelecemos um fundo as transações financeiras e com isso um fundo para o novo modelo de desenvolvimento?”, completou.

Em suas considerações finais, o diretor do Pnuma taxou de anacronismo a não participação das organizações da Cúpula dos Povos na conferência oficial da Rio+20, mesmo considerando equivocadas algumas posições destas organizações, que desconsideram os avanços já alcançados pelos esforços da ONU. “Criticar somente é um privilégio e um direito, mas as obrigações e as responsabilidades é explicar como vamos avançar. Mas pensem cuidadosamente se vão jogar tudo fora sobre como esverdear nossa economia”, concluiu.

*Extraído de Carta Maior

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sustentabilidade

A "cidade olímpica" e sua [in]sustentabilidade* 

Fernanda Sánchez**
As políticas urbanas neoliberais, que conhecemos no Brasil há cerca de duas décadas, vêm sendo formuladas no âmbito de uma economia simbólica que afirma visões de mundo, noções e imagens, as quais acompanham as ações de reestruturação urbana. Operações para reconversão de territórios e megaequipamentos culturais ou esportivos são acionados para soldar as forças sociais das cidades e trazidos pela mão de coalizões de promotores urbanos que apresentam projetos ditos consensuais e competitivos.

Perante as realidades da fragmentação, tais operações urbanas procuram integrar simbolicamente a cidade e envolvê-la em uma política-espetáculo. O êxito do governo brasileiro e, em especial, do Executivo municipal da cidade do Rio de Janeiro em conquistar a condição de país-sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio-2016 pode ser tomado como exemplo da produção dessa política-espetáculo.

Trazemos algumas notas acerca do Projeto Olímpico e das escolhas éticas, políticas e espaciais que o definem e que buscam sustentar a insustentável cidade que configuram. Não podemos compreender aspectos cruciais da gestão das metrópoles sem levar em consideração a importância dos megaeventos, pela ampla coalizão de atores e pelo formidável volume de recursos que são capazes de acionar, bem como por seus efeitos de ruptura nas diversas dimensões do espaço social.

Entre suas justificações, o chamado “legado”: projetos ambientais, equipamentos e instalações esportivas, transportes, inclusão social. A revisitação de outras cidades-sede permite observar que em Montreal, Atlanta, Atenas, Pequim ou Cidade do Cabo os benefícios sociais do urbanismo olímpico são frustrantes. A retórica dos efeitos positivos não se sustenta, como mostraram diversos autores na 1ª Conferência Internacional Megaeventos e Cidades, em 2010[1].

Tal avaliação procede também para o caso dos Jogos Pan-Americanos Rio-2007. Em sua dimensão urbanística, as intervenções realizadas mostraram-se pontuais, sem relação consistente com a cidade. Estava presente a lógica elitista da cidade, manifesta na estratégia de concentrar o evento em áreas nobres, visando, ao mesmo tempo, à segurança e ao conforto dos participantes e, sobretudo, oferecer ao mundo uma imagem urbana supostamente “civilizada” e “moderna”. Longe, portanto, de qualquer preocupação em utilizar o evento para redistribuir, no espaço da cidade, as benfeitorias.

A Barra da Tijuca e seu entorno foram eleitos para centralizar as intervenções. Mediante uma ideia amesquinhada de cidade, foi mostrado como sinal de êxito o sucesso imobiliário do empreendimento da Vila Pan-Americana. Ressaltamos, contudo, que ela teve como principal efeito urbano alimentar o processo especulativo de valorização das terras.

Em outra área do Rio de Janeiro se encontra a maior instalação esportiva edificada para aquele evento: o Estádio Olímpico conhecido como “Engenhão”, na zona norte. Não guarda nenhuma relação com o bairro onde está instalado, enquanto equipamento propulsor de desenvolvimento urbano, como foi então justificado. Esse monumental equipamento obedece a uma lógica relacionada com outra escala: a da cidade olímpica.

Ainda que a celebração de tal evento, em 2007, nos permita hoje observar seus escassos efeitos urbanos positivos, reconhecemos que o trabalho político-simbólico em torno de sua realização permitiu à coalizão dominante construir a ideia de sucesso a respeito desse que foi considerado o primeiro megaevento carioca do século XXI. A partir de então, o consenso vem sendo administrado mediante a venda de uma mercadoria difusa, mas poderosa: a ilusão do renascimento urbano por meio dos Jogos.

Apesar da pressão resultante desse expressivo investimento simbólico em busca de consenso, conflitos foram explicitados, assim como algumas conquistas. Entre elas, destacamos a permanência do bairro popular Vila Autódromo diante das sucessivas ameaças de remoção. Também de grande relevância política, urbanística, ambiental e social foi a defesa do Parque do Flamengo como patrimônio público, então ameaçado por empreendimento privado para a Marina da Glória.

O projeto para os Jogos de 2016 e a chamada “conquista” do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada foram o desenlace de um longo processo no qual vem se afirmando uma concepção de cidade e, portanto, de políticas urbanas profundamente influenciada pelo pensamento neoliberal.

As formas pelas quais se impõe esse projeto indicam ainda uma nova articulação entre poder político e econômico local com empresas e instituições extralocais. Com efeito, o planejamento urbano voltado aos megaeventos reúne um conjunto de processos que constrói uma “cidade da exceção”, conforme Carlos Vainer. Acrescente midiatização dos megaeventos passa a controlar diversos aspectos da imagem urbana, com impactos nas liberdades civis e no direito à cidade.

Para esse evento, segue a tônica geral que enaltece a modernidade espetacular da Barra da Tijuca. Mesmo com a inclusão da Zona Portuária no projeto, como novo símbolo-vitrine da ideia de cidade, tal orientação permanece. A reedição carioca do modelo waterfront praticado em diversas cidades do mundo combina, em sua agenda, equipamentos culturais, âncoras dos processos de renovação, torres de escritórios e moradias de alto padrão.

As obras foram concedidas integralmente a um consórcio de grandes empresas privadas. A operação, que mobilizou fundos públicos do FGTS, assenta-se em área com cerca de 75% de terrenos de propriedade pública. Essa notável situação fundiária do Porto, não fosse a orientação pró-mercado do projeto, permitiria ao poder público desenvolver programas de interesse social, como equipamentos metropolitanos, habitação inclusiva e lazer. Entretanto, não constam no projeto instrumentos claros de captura pública de mais-valias para esses fins. A privatização do planejamento, a execução das obras e a gestão da área por quinze anos efetivam a transferência de bairros inteiros para o controle privado. Esse quadro expressa a desigual distribuição de riscos e benefícios entre o setor público e o privado, naquela que constitui a maior PPP (parceria público-privada) do país, com a privatização dos ganhos e a socialização das perdas. 

Os promotores dos megaeventos, em nome da “inserção competitiva” da cidade, convocam os cidadãos a um engajamento irrestrito. Nesse contexto, a cidade-mercadoria vem se atualizando, demandando novos esforços de reflexão. Ao estimular a reinvenção da cidade e sua nova inscrição mundial pela via dos megaeventos e dos grandes projetos urbanos, esse modelo de cidade e seu urbanismo de resultados têm contribuído para potencializar a desigualdade: ao mesmo tempo que são renovados os espaços em ritmo intenso e a prazo fixo, ficam diretamente comprometidas as receitas públicas e as políticas sociais, favorecendo a multiplicação de conflitos. 

*Extraído de Le Monde Diplomatique Brasil
**Professora do Departamento de Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do CNPq, do GPDU-PPGAU-UFF e do laboratório Ettern- Ippur- UFRJ. 
[1] Essa conferência foi organizada pelo Ettern-Ippur-UFRJ e pelo GPDU-PPGAU-UFF. Realizada na Universidade Federal Fluminense, em 2010, contou com a participação de pesquisadores como John Horne, Carlos Vainer, Anne-Marie Broudehoux, Alan Mabin, Stavros Stavrides e Raquel Rolnik.