quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Trabalho


A maldição do trabalho


Mauro Santayana


Os sucessivos casos de suicídio na France-Telecom provocam, como é natural, além dos protestos crescentes, novas reflexões sobre o trabalho. A etimologia do termo não é boa: trabalho vem do vocábulo latino trepalium, que significava instrumento de tortura. Trabalhar nem sempre é uma tortura. Em algumas empresas capitalistas modernas, os percalços do emprego são amenizados, pela visão humanística de seus dirigentes, e a liberalidade conduz a melhores resultados econômicos. A produção do trabalhador é sempre menor quando ele se encontra aflito, seja pelas dificuldades familiares, ou pelas pressões e constrangimentos que sofre em seu emprego.

A sociedade industrial herdou, dos beneditinos, o controle do tempo. Os monges estabeleceram horários rígidos para as preces coletivas e para os trabalhos manuais a que estavam sujeitos, entre eles os de copistas. Antes do surgimento das empresas capitalistas de produção, os artesãos obedeciam ao prazo das encomendas, não aos horários estritos de trabalho. Podiam trabalhar mais, ou menos, e criavam em cada peça que faziam, o que lhes dava satisfação. No sistema de servidão das glebas, os trabalhadores não estavam sob a vigilância dos nobres; tinham suas obrigações, e as cumpriam, em troca da hipotética proteção de que se valiam.

Os escravos trabalhavam de sol a sol, mas os feitores eram atentos para que a demasiada exaustão não significasse a perda da saúde do cativo, que era um bem de capital. Com o desenvolvimento do capitalismo, principalmente no século 19, o trabalho se tornou maldição. A lógica seria a de que, com o surgimento dos motores a vapor, o aumento de produção viesse a aliviar o trabalho. A exacerbação da busca do lucro estendeu a jornada, nas minas e nas fábricas, até 16 horas diárias, de domingo a domingo na Inglaterra do século 19.

O que se passou na etapa de acumulação capitalista repetiu-se, nestes últimos 30 anos, com o neoliberalismo. Os novos processos de produção, resultados da tecnologia, conquista da inteligência histórica do homem, deveriam resultar em menor tempo de trabalho ou em aumento proporcional de salários, o que manteria o mercado em equilíbrio. As pressões e constrangimentos a que estavam submetidos os operários braçais se estendem hoje aos trabalhadores de colarinho branco. Os executivos médios das empresas sofrem o acosso permanente dos diretores, e os diretores, por sua vez, são pressionados pelos controladores – geralmente grandes instituições financeiras, que administram o dinheiro dos acionistas anônimos, e de vez em quando o desviam, como se viu em Wall Street.

Os serviços públicos foram particularmente atingidos, com a privatização. Como a moral do novo liberalismo é obter o máximo no mínimo de tempo, a competição entre os operadores, principalmente os dos serviços de telefonia, é enlouquecedora. O neoliberalismo entrou em declínio, mas os seus efeitos mais perversos, como os das relações de trabalho, continuam matando, como as gangrenas incuráveis. O sistema financeiro é avassalador e insaciável. Agora mesmo isso se evidencia, com a grita geral dos bancos brasileiros e dos chamados consultores econômicos, contra a taxação dos capitais estrangeiros especulativos, que estão jogando com a valorização do real, e prejudicando a economia brasileira. A medida é ainda tímida: para o saneamento da economia nacional é preciso ir além. Na Europa já se propõe a taxação forte dos bancos, a fim de que paguem pela ajuda recebida durante a crise que provocaram.

Extraído do Jornal do Brasil. Para acesso completo clique em JB.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Educação Superior


Conheça o programa do curso de Pós-graduação em
Estratégia Empresarial e Inteligência Competitiva


Resumo

Programa de MBA em Estratégia Empresarial e Inteligência Competitiva, com duração de 360 horas presenciais (18 meses). Voltado para pessoas que têm interesse em trabalhar na construção de um sistema de inteligência que funciona como um radar capaz de monitorar tendências de mercado e da sociedade, identificar oportunidades de negócio e evitar surpresas competitivas, transformando as informações em diferencial competitivo para a tomada de decisão nas organizações. Esse profissional pode trabalhar em organizações públicas e privadas, de qualquer porte ou ramo de atuação ou, ainda, empreender negócio próprio como consultor de inteligência competitiva. A abordagem de competitividade proposta se insere na visão da sustentabilidade, que busca compatibilizar a eficiência econômica com a ambiental e a social, dentro de uma perspectiva de construção do futuro para as empresas e a sociedade em geral.


Contexto de trabalho

O analista estratégico em Inteligência Competitiva pode atuar em organizações públicas e privadas, de qualquer porte ou ramo de atuação. Pode, ainda, empreender negócio próprio como consultor de inteligência competitiva.


Estrutura Curricular e duração


Unidades Curriculares

Duração em horas

Fundamentos de Gestão Empresarial

32

Planejamento e Estratégia Empresarial

32

Mapas estratégicos em Inteligência Competitiva

32

Gestão da Informação e da comunicação corporativa

24

Gestão de mudanças

24

Inovação e Competitividade

16

Fundamentos e aplicações de Inteligência Competitiva

40

Formação de Consultores em Inteligência Competitiva

32

Gestão da Tecnologia e Segurança da Informação

40

Gestão de Riscos

16

Gestão de Projetos

24

Projeto Integrador e Tópicos Especiais

48

Duração Total

360


Como se inscrever?

Faculdade Senac Rio
Endereço: Rua Santa Luzia, 735 / 4º andar - Centro
Telefone: (21) 2517-9268 / 2517-9282 / 2517-9252 / 2517-9222

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Informação


O direito de expressão é o direito de escutar?
*

Eduardo Galeano

No século XVI, alguns teólogos da igreja católica legitimavam a conquista da América em nome do direito da comunicação. Jus communicationis: os conquistadores falavam, os índios escutavam. A guerra era inevitável justamente quando os índios se faziam de surdos. Seu direito de comunicação consistia no direito de obedecer. No fim do século XX, aquela violação da América ainda se chama encontro de culturas, enquanto continua se chamando comunicação o monólogo do poder.

Ao redor da Terra gira um anel de satélites cheios de milhões e milhões de palavras e imagens, que da terra vêm e à terra voltam. Prodigiosas engenhocas do tamanho de uma unha recebem, processam e emitem, na velocidade da luz, mensagens que há meio século exigiriam trinta toneladas de maquinaria. Milagres da tecnociência nestes tecnotempos: os mais afortunados membros da sociedade midiática podem desfrutar suas férias atendendo o telefone celular, recebendo e-mail, respondendo ao bipe, lendo faxes, transferindo as chamadas do receptor automático, fazendo compras por computador e preenchendo o ócio com os videogames e a televisão portátil.

Vôo e vertigem da tecnologia da comunicação, que parece bruxaria: à meia-noite, um computador beija a testa de Bill Gates, que de manhã desperta transformado no homem mais rico do mundo. Já está no mercado o primeiro microfone incorporado ao computador, para que se converse com ele. No ciberespaço, Cidade celestial, celebra-se o matrimônio do computador com o telefone e a televisão, convidando-se a humanidade para o batismo de seus filhos assombrosos.

A cibercomunidade nascente encontra refúgio na realidade virtual, enquanto as cidades se transformam em imensos desertos cheios de gente, onde cada qual vela por seu santo e está metido em sua própria bolha. Há quarenta anos, segundo as pesquisas, seis de cada dez norteamericanos confiavam na maioria das pessoas. Hoje a confiança murchou: só quatro de cada dez confiam nos demais. Este modelo de desenvolvimento desenvolve a desvinculação. Quanto mais se sataniza a relação com as pessoas, que podem te pegar a Aids, te tirar o emprego ou te depenar a casa, mais se sacraliza a relação com as máquinas. A indústria da comunicação, a mais dinâmica da economia mundial, vende as abracadabras que dão acesso à Nova Era da história da humanidade. Mas este mundo comunicadíssimo está se parecendo demais com um reino de sozinhos e de mudos.

Os meios dominantes de comunicação estão em poucas mãos, que são cada vez menos mãos e em regra atuam a serviço de um sistema que reduz as relações humanas ao mútuo uso e ao mútuo medo. Nos últimos tempos, a galáxia Internet abriu imprevistas e valiosas oportunidades de expressão alternativa. Pela Internet estão irradiando suas mensagens numerosas vozes que não são ecos do poder. Mas o acesso a essa nova autopista da informação é ainda um privilégio dos países desenvolvidos, onde reside noventa e cinco por cento dos usuários. E já a publicidade comercial está tentando transformar a Internet em Businessnet: esse novo espaço para a liberdade de comunicação é também um novo espaço para a liberdade de comércio. No planeta virtual não se corre o risco de encontrar alfândegas, nem governos com delírios de independência. Em meados de 1997, quando o espaço comercial da rede já superava com sobras o espaço educativo, o presidente dos EUA recomendou que todos os países do mundo mantivessem livres de impostos a venda de bens e serviços através da Internet, e desde então este é um dos assuntos que mais preocupam os representantes norteamericanos nos organismos internacionais.

O controle do ciberespaço depende das linhas telefônicas e nada é mais casual quer a onda de privatizações dos últimos anos, no mundo inteiro, tenha arrancado os telefones das mãos públicas para entregá-los aos grandes conglomerados da comunicação. Os investimentos norteamericanos em telefonia estrangeira se multiplicam muito mais do que os demais investimentos, enquanto avança a galope a concentração de capitais: até meados de 1998, oito mega-empresas dominavam o negócio telefônico nos EUA, e numa só semana se reduziram a cinco.

A televisão aberta e por cabo, a indústria cinematográfica, a imprensa de tiragem massiva, as grandes editoras de livros e de discos e as emissoras de rádio de maior alcance também avançam, com botas de sete léguas, para o monopólio. Os mass media de difusão universal puseram nas nuvens o preço da liberdade de expressão: cada vez são mais numerosos os opinados, os que têm o direito de ouvir, e cada vez são menos numerosos os opinadores, os que têm o direito de se fazer ouvir. Nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, ainda tinham ampla ressonância os meios independentes de informação e opinião e as aventuras criadoras que revelavam e alimentavam a diversidade cultural. Em1980, a absorção de muitas empresas médias e pequenas já deixara maior parte do mercado planetário na posse de cinqüenta empresas. Desde então a independência e a diversidade se tornaram mais raras do que cachorro verde.

Segundo o produtor Jerry Isenberg, o extermínio da criação independente na televisão norteamericana foi fulminante nos últimos vinte anos: as empresas independentes proporcionavam entre trinta e cinqüenta por cento do que se via na telinha e agora chegam a apenas dez por cento.

Também são reveladores os números da publicidade no mundo: atualmente, metade de todo o dinheiro que o planeta gasta em publicidade vai parar no bolso de apenas dez conglomerados, que açambarcaram produção e a distribuição de tudo o que se relaciona com imagem, palavra e música.

Nos últimos cinco anos, duplicaram seu mercado internacional as principais empresas norteamericanas de comunicação: General Electric, Disney/ABC, Time Warner/CNN, Viacom, Tele-Communications INC. (TCI) e a recém chegada Microsoft, a empresa de Bil Gates, que reina no mercado equivalente e televisual. Estes gigantes exercem um poder oligopólico, que em escala planetária é compartilhado pelo império Murdoch, pela empresa japonesa Sony, pela alemã Berteslmann e uma que outra mais. Juntas, teceram uma teia universal. Seus interesses se entrecruzam, atadas que estão por numerosos fios. Ainda que esses mastodontes da comunicação simulem competir e às vezes até se enfrentam e se insultem para satisfazer a platéia, na hora da verdade o espetáculo cessa e, tranquilamente, eles repartem o planeta.

Por obra e graça da boa sorte cibernética, Bill Gates amealhou uma rápida fortuna equivalente a todo o orçamento anual do estado argentino. Em meados de 1998, o governo dos EUA entrou com uma ação contra a Microsoft, acusada de impor seus produtos através de métodos monopolistas que esmagavam seus competidos. Tempos antes, o governo federal entrara com um processo similar contra a IBM: ao cabo de treze anos de marchas e contramarchas, o assunto deu em nada. Pouco podem as leis jurídicas contra as leis econômicas: a economia capitalista gera concentração de poder como o inverno gera o frio. Não é provável que as leis anti-trust, que outrora ameaçavam os reis do petróleo, possa pôr em perigo a trama planetária que está tornando possível o mais perigoso dos despotismos: o que atua sobre o coração e a consciência da humanidade inteira.

A diversidade tecnológica quer significar diversidade democrática. A tecnologia põe a imagem, a palavra e a música ao alcance de todos, como nunca antes ocorrera na história humana, mas essa maravilha pode se transformar num logro para incautos se o monopólio privado acabar impondo a ditadura da imagem única, da palavra única e da música única. Ressalvadas as exceções, que afortunadamente existem e não são poucas, essa pluralidade tende, em regra, a nos oferecer milhares de possibilidades de escolher entre o mesmo e o mesmo. Como diz o jornalista argentino Ezequiel Fernández-Moore, a propósito da informação: “Estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada”.

*Texto publicado no livro "De pernas pro ar" (LPM), extraído de Carta Maior. Para acesso clique em Carta.

Educação Superior


Faculdade Senac cria curso com nova abordagem para a competitividade sustentável

O tema Inteligência Competitiva tem se inserido na gestão empresarial como alternativa para monitorar o ambiente externo, identificando as melhores práticas existentes, as estratégias adotadas pelos concorrentes, demandas de clientes, tecnologias e tendências gerais dos negócios, visando subsidiar a tomada de decisão empresarial. O foco é uma competitividade sustentável. Porém, essa competitividade está concentrada na perspectiva econômica, o que não é mais suficiente. Hoje é entendido que o acirramento da competição em escala mundial ocasionou diversos problemas ambientais e sociais, fazendo com que os consumidores, cada vez mais investidos de cidadania, incorporem um aumento da consciência ambiental e da melhoria da qualidade de vida como requisitos para a competitividade empresarial. É a denominada gestão para a sustentabilidade, que busca compatibilizar a eficiência econômica com a ambiental e a social, dentro de uma perspectiva de construção do futuro para as empresas e a sociedade em geral. Essa articulação é denominada de visão triple botton line.

Esse é um dos propósitos do novo curso de pós-graduação lato sensu em Estratégia Empresarial e Inteligência Competitiva que será realizado pela Faculdade Senac, no Rio de Janeiro. Desenvolvido e coordenado por Daniel Roedel, Diretor da Plurimus, o curso se propõe a formar Analistas Estratégicos de Informação, capazes de identificar, recuperar, analisar, disseminar e usar a informação relevante e prioritária para auxiliar o processo de tomada de decisão. O Analista pode atuar em organizações públicas e privadas, de qualquer porte ou ramo de atuação, ou empreender negócio próprio como consultor de inteligência competitiva.


No entanto, para ser relevante e poder proporcionar vantagem competitiva, a informação deve atender de modo integrado, as perspectivas econômicas, sociais e ambientais.

Para informações sobre o programa do curso procure a FATEC - FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAC RIO, Rua Santa Luzia, 735 - 5º Andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20030-040 Tel.: (21) 2517-9252 / 9282 Fax: (21) 2517-9249 Email: posgraduacao@rj.senac.br.

Cidades sustentáveis


Resultado de nossa enquete: é possível o Rio de Janeiro promover os Jogos Olímpicos de 2016, preservando o ambiente e garantindo a sustentabilidade, conforme tem sido divulgado pelos organizadores da candidatura?

  • Sim. Esse é o grande diferencial da candidatura do Rio de Janeiro 39%
  • Não. É apenas mais uma retórica para aproveitar um tema do momento 16%
  • O Rio de Janeiro não tem qualquer chance de realizar os Jogos Olímpicos, porque concorre com potências econômicas 3%
  • O Rio de Janeiro pode dar um grande exemplo de como equilibrar desenvolvimento econômico e responsabilidade socioambiental 42%

Nossa opinião

As respostas evidenciam um sentimento amplamente favorável à possibilidade de que o Rio de Janeiro realize Jogos Olímpicos, preservando o ambiente e garantindo a sustentabilidade. É claro que o desejo de que esse evento se realize na cidade, aliado ao apoio da mídia pode influenciar tais expectativas. No entanto, ter a sustentabilidade como tema central pode significar um importante caminho para a aplicação dos vultosos investimentos previstos. O Rio é uma cidade que ainda tem a natureza como importante diferencial, apesar da atuação devastadora da especulação imobiliária e dos efeitos que a miséria e o descaso com os temas sociais historicamente ocasionaram no ambiente.

Assim, a propalada intenção de realizar uma olimpíada sustentável pode ser uma oportunidade, desde que sua execução não se torne mais uma retórica oficial ou uma maquiagem adotada apenas para favorecer a uma “estratégia de marketing”. As organizações da sociedade civil que tem compromisso com a sustentabilidade devem vigiar e cobrar uma execução de fato de um projeto olímpico sustentável, mesmo que ele não seja olímpico.