quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Empreendedorismo

Situação do empreendedorismo corporativo no Brasil*

Marcos Hashimoto**

Recebi recentemente os resultados de uma ampla pesquisa realizada com executivos de grandes empresas como IBM, Vale, Banco do Brasil e Odebrecht sobre o nível de empreendedorismo dentro das organizações. As respostas nos dão uma idéia do estágio que nossas organizações se encontram no caminho para promover uma cultura efetivamente intra-empreendedora. Foram mais de 50 entrevistas e 500 questionários respondidos. Eis abaixo as principais conclusões:

1. As empresas não sabem o que é empreendedorismo corporativo. A maioria acha que um programa que promova as idéias dos funcionários é empreendedorismo corporativo. Não é. Pode até ser uma etapa importante, mas ser empreendedor vai além de trazer boas idéias. Envolve, sobretudo a capacidade de transformar estas idéias em realidade e, de uma forma contínua e sustentável garantir o fluxo de geração de idéias e sua implementação com o tempo. A rigor, o funcionário que não contribuiu com idéia nenhuma, mas pegou a idéia de outro e a implementou é até mais empreendedor do que aquele que teve a idéia.

2. As lideranças representam o maior empecilho ao surgimento do intra-empreendedor. Os supervisores não se sentem à vontade com funcionários empreendedores. Não estão preparados para liderá-los, pois este tipo de funcionário requer outro tipo de atenção. Eles incomodam, põem o dedo na ferida, questionam tudo, são eternos inconformados, são ousados além dos padrões, não gostam de rotinas. Liderá-los é um desafio constante que poucos estão dispostos a enfrentar. O resultado é que estes funcionários não duram muito tempo na empresa: Ou a abandonam em busca de organizações que possam lhe ceder o espaço de que precisa ou são sumariamente demitidos pelos supervisores que os vêem como ameaça.

3. As amarras da burocracia continuam representando grandes barreiras à inovação corporativa. Quanto mais complexa for a organização e, entendam complexidade como a combinação entre dados como número de funcionários, número de produtos e unidades de negócio, uso de tecnologia, amplitude de cobertura geográfica, idade e número de níveis hierárquicos, maior é a chance de se valorizar mais os processos e controles do que o negócio em si. Organizações intra-empreendedoras conseguem inverter esta relação e dão liberdade para superar barreiras burocráticas para idéias que se mostrem viáveis e relevantes.

4. Persistência do paradigma de que a inovação ou novas idéias vêm do topo da hierarquia ou dos laboratórios de P&D. Muitas empresas acreditam que a inovação só pode ser de natureza tecnológica e portanto apenas os laboratórios podem concebê-la. Muitas empresas acreditam que as iniciativas inovadoras só podem vir de quem conhece bem o negócio como um todo, ou seja,

5. Organizações que promovem o intra-empreendedorismo têm em comum um empreendedor no principal cargo. Mesmo que a gerência nos níveis intermediários não estimule o comportamento empreendedor, quando a alta liderança, na figura do fundador ou do presidente, tem perfil empreendedor, a tendência é que ele consiga expandir esta cultura pirâmide abaixo. Esta constatação comprova o fato de que a atitude empreendedora envolve mudanças culturais e que estas mudanças só acontecem de cima para baixo na hierarquia.

6. O setor de atuação da organização influencia na sua capacidade intra-empreendedora. Empresas que pertencem a setores mais dinâmicos e sujeitos a influências externas precisam ter mais flexibilidade e adaptabilidade em seus processos internos para serem competitivas, como empresas de tecnologia ou telecomunicações. Empresas que têm alta dependência de capital intelectual como bancos e consultorias possuem funcionários mais disputados no mercado de trabalho e, portanto, precisam criar mais atrativos para manter seus melhores talentos, sobretudo aqueles de perfil empreendedor.

7. Empresas de capital predominantemente nacional têm uma tendência maior de desenvolver uma cultura intra-empreendedora do que multinacionais. Isto se deve ao fato de que subsidiárias de empresas estrangeiras instaladas no Brasil têm um grau reduzido de liberdade e autonomia para tomar decisões locais. Não existe intra-empreendedorismo sem que os funcionários possam ousar e quebrar regras que impeçam o aproveitamento de uma oportunidade. Muitas empresas de capital estrangeiro dependem da matriz e tem suas ações limitadas pela centralização de decisões.

8. Forte cultura de penalização do erro. Ainda é predominante nas empresas brasileiras. Não é permitido errar. A premissa do empreendedorismo é que toda inovação é passível de falhas e erros justamente porque é inovador, ou seja, ninguém fez ainda. A intolerância ao erro faz com que o funcionário se sinta inibido de tentar coisas novas, experimentar algo diferente. Encarar o erro como parte importante do processo de aprendizado ainda é raro nas empresas.

Com isso, podemos concluir que, em uma escala de 1 a 4, em que 4 é a organização intra-empreendedora e 1 é uma organização tradicional, a maior parte das empresas brasileiras que se dizem intra-empreendedoras poderia ser classificada como estando no estágio 2. Neste caminho estas organizações ainda precisam agir para dar mais liberdade dirigida a seus funcionários, precisam saber identificar, atrair, reter e desenvolver pessoas com perfil empreendedor, precisam aprender a correr riscos e assumir o erro como parte do aprendizado, precisam aprender a destruir o antigo para dar espaço ao novo, precisam, enfim, adotar uma nova postura livre dos paradigmas das melhores práticas e da melhoria contínua para romper com padrões e estabelecer novos patamares de competitividade através da capacidade de pensar diferente, pensar como dono do negócio, pensar no futuro.

*Extraído de Administradores. Para acesso ao site clique em Hashimoto.

**Mestre em Administração pela EAESP/FGV, professor da Business School São Paulo.

Nossa opinião

Recentemente publicamos neste blog três artigos retratando nossa opinião acerca do empreendedorismo nas empresas privadas, empresas públicas e no Terceiro Setor. Para acessar os artigos na seqüência em que foram publicados clique em Empreendedorismo.

Nenhum comentário: