quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Tendências

Uma geração para alcançar a igualdade

Fábio Santos*

Em 20 anos, os negros terão uma renda familiar igual à dos brancos. Essa foi uma das conclusões de um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a manchete do Destak de ontem. Essa é uma daquelas notícias que podem ser lidas de duas formas: o copo está metade vazio ou metade cheio. Prefiro a segunda opção. Explico-me.

Segundo o Ipea, a tendência de redução da desigualdade de renda entre brancos e negros tem se mantido constante desde 1998. Ou seja, esse é um processo que vai demorar cerca de 30 anos. Isso quer dizer que temos a possibilidade real e concreta de, no espaço de uma geração, fechar uma das feridas mais profundas deixadas pela escravidão.

Claro, outras chagas vão permanecer, principalmente o preconceito de cor, pois esse está entranhado na cultura de algumas regiões. Mas se a diferença de renda for vencida, os comportamentos racistas – que hoje já são legal e socialmente reprimidos – vão se tornar cada vez mais raros.

Um outro estudo, divulgado ontem e elaborado pelo economista Marcelo Paixão, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, indica que a diferença de escolaridade entre negros e brancos vai acabar em 17 anos. Outra boa notícia.

Tanto o estudo de Paixão quanto o do Ipea parecem ter sido elaborados para sustentar a tese de que o Brasil precisa adotar políticas afirmativas radicais, como a criação de cotas raciais no ensino superior, para acabar com a desigualdade racial no país. A meu ver, porém, ambos apontam justamente na direção oposta.

O trabalho do Ipea é a demonstração cabal de que, se o país atacar as desigualdades sociais de uma maneira geral, as diferenças de cor também deixarão de ser importantes. A renda tem se tornado mais igual, diz o Ipea, por conta dos programas sociais criados pelo governo FHC e grandemente ampliados pelo de Lula. Ora, esses programas, como o Bolsa Família, não consideram a etnia dos seus beneficiários, mas apenas as suas condições sociais.

O problema das cotas é separar radicalmente o que, no Brasil, tende à unificação. A diferenciação entre negros e brancos é real, sem dúvida, mas é também arbitrária, já que a maioria da população é, na verdade, miscigenada.

Ah, mas é preciso andar mais rápido, alguém pode argumentar em favor das cotas raciais e de outras ações afirmativas radicais. Ora, se a idéia é pisar no acelerador, parece-me que o melhor seria mirar na origem das diferenças: a educação básica.

*Extraído do jornal Destak. Para acesso clique em Destak


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