quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mídia

Monopólio e centralidade da mídia – final

Hiran Roedel*


Nesse sentido, tudo deve obedecer à fábula da globalização que constrói o mito da democratização das condições de falar. Um mito que apresenta a globalização como a condição da horizontalidade, dado que os mercados se integram, agora, em rede. Não há hierarquia entre eles, pois o capital não mais se encontra limitado ao território, mas às possibilidades de circulação então geradas. Esse discurso se mantém extremamente vivo no mundo e no Brasil, em especial.

Neste, as condições do espetáculo também estão postas. A integração ao mercado global e a centralidade da mídia permitiram a lógica do mercado subsumir o campo político que passou a definir a “agenda” de seus debates. Ao mesmo tempo, os complexos midiáticos intimamente vinculados e dependentes das agências de notícias transnacionais, têm gerado e reproduzido o mesmo olhar unifocal ditado externamente.

O controle desses complexos por poucas famílias tem permitido definir as políticas para o campo comunicacional em que qualquer tipo de tentativa de regulação logo gera, com ar de denúncia, o discurso do atentado à liberdade de imprensa, à liberdade de expressão. Não se pode atrapalhar o livre jogo e circulação do capital que tem se manifestado no mundo pela concentração da propriedade da comunicação formando oligopólios, muitas vezes transnacionais, e no Brasil não é diferente.

Um processo que se iniciou no governo Sarney, quando se atraiu as mega-empresas de comunicação a partir da regulamentação das TV’s por assinatura, e se expandiu no governo FHC com a regulamentação da TV a cabo e TV por satélite. Por extensão, essas mega-empresas dominaram também o setor de publicidade onde das dez maiores empresas que atuavam, em 2001, no Brasil, somente três eram brasileiras[4]. Ou seja, o Brasil se integrara à lógica da globalização e, portanto, passávamos a ser abastecidos pelo olhar unifocal, enquanto o espetáculo assumia posição estratégica na produção do sentido e da compreensão da realidade.

Sob esse aspecto, a política brasileira também assumiu um caráter de espetáculo e passou a ser regida pelo mercado sufocando os espaços de manifestações democráticas. Afirmava-se, também no Brasil, a plutocracia, o que corresponde dizer que os principais atores políticos nacionais são homens de negócio ligados, inclusive, ao campo da comunicação. Isso demonstra o grande peso do aparato midiático na definição dos processos eleitorais. Observa-se, porquanto, o fato de que na Rede Globo, com 21 afiliadas, figuram como sócios os nomes de José Sarney, Fernando Collor de Mello, Garibaldi Alves, Albano Franco, a família de Antonio Carlos Magalhães e João Calisto Lobo. Já no SBT, com 17 afiliadas, temos Tasso Jereissati, Orestes Quércia, Jorge Maluly Neto e Paulo Pimentel, enquanto na Bandeirantes, com 9 afiliadas encontramos os nomes de Jader Barbalho, Geraldo Sampaio, Geraldo Melo, Júlio Campos e Romero Jucá . Todos políticos de projeção na política nacional ou regional.

Fica evidente a relação do campo da comunicação com o da política no dizer da produção do sentido. O entrelaçamento desses dois campos ao definirem a política como negócio impõe o imediatismo individualista e competitivo como regra, enquanto submete o Estado aos interesses dos mega-grupos empresariais. Nunca é demais lembrar que o capital internacional, desde 1997, pode participar em até 100% das empresas de telecomunicação e, com isso, abrindo espaço para a subsunção da mídia brasileira aos oligopólios globalizados.

Romper as barreiras impostas pelos oligopólios que submetem o campo midiático à lógica do mercado tem se demonstrado bastante limitado. A alternativa apresentada tem sido as TV’s comunitárias, mas que por alcance limitado não vêm conseguido furar os bloqueios da grande mídia em oferecer a produção e difusão de novos sentidos que apontem para a reordenação das relações sociais.

*Diretor da Plurimus
Referências

[1] SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000, pp. 18-19.

[2] SANTOS, Milton. op. cit. p. 67.
[3] DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997, pp. 16-17.
[4] CAPARELLI, S. e LIMA, V. A. de. Comunicação e televisão: desafios da pós-globalização. São Paulo: Hacker, 2004, pp. 24-25.
[5] Ibidem, p. 31.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo. E a concentração da mídia faz com que o país saiba sempre sobre as mesmas coisas e pela mesma versão. Que absurdo concentrarem também rádio, jornal e tv no mesmo grupo!!!