quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Empreendedorismo

Considerações sobre Empreendedorismo – parte II

Daniel Roedel*

Esse processo empreendedor foi definido por Joseph Schumpeter, na primeira metade do século XX, como de “destruição criativa”, característica essencial do capitalismo para a criação permanente de valor e inovação, que substitui e destrói antigas práticas e processos de produção. Schumpeter o considerou condição essencial para o crescimento econômico. Logo, a retomada do discurso empreendedor nos anos 1980 favoreceu o seu protagonismo em substituição a políticas desenvolvimentistas orientadas pelo Estado.

Desde então, a cultura do self made man assumiu a responsabilidade por promover o crescimento econômico e se tornou central na gestão de iniciativas privadas, públicas e, mais recentemente, do Terceiro Setor. Iniciativa e determinação individuais são valorizadas como elementos centrais na conquista dos bens e riquezas dos países, deslocando o Estado para um papel periférico de criação das condições de mercado para o desenvolvimento do empreendedorismo. A esse respeito vale consultar a obra de Ana Paula Paes de Paula cuja resenha foi recentemente publicada neste blog. Outra publicação relevante é O Neoliberalismo – história e implicações, de David Harvey (Ed Loyola, 2005).

No Brasil, diversas são as iniciativas visando tornar o empreendedorismo um modo eficaz de gestão e foco de atenção por parte dos poderes públicos. O Sebrae, o Endeavor e o Bota Pra Fazer são alguns exemplos de organizações que divulgam a causa empreendedora e orientam quanto à adoção de sua prática. Entre os aspectos positivos para ser empreendedor são destacados o dinamismo, a forte condição para a geração de empregos por parte de micro e pequenos negócios (o que interessa diretamente aos governos), a auto-realização e a superação de desafios (que estimula indivíduos a se tornarem empreendedores). Como exemplo de que ser empreendedor é o caminho para o êxito, diversos empresários que alcançaram sucesso são citados, principalmente aqueles que fizeram escolhas radicalmente diferente de suas vocações ou profissões iniciais.

Ainda visando enfatizar a importância do empreendedorismo, são freqüentemente apresentados dados das pesquisas do Global Entrepreneurship Monitor GEM. A edição de 2007 aponta que o Brasil ocupa a 9ª posição no ranking dos países empreendedores. Já o Sebrae destaca que as micro e pequenas empresas respondem por cerca de 25% do PIB do país.

No âmbito do serviço público o processo de modernização da gestão, praticado pelos governos desde os anos 1990, introduziu o viés empreendedor, estimulando sua prática em órgãos, empresas e servidores, até mesmo por meio de premiações para iniciativas consideradas exitosas. O Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – Gespública, criado pelo Decreto nº. 5.378 de 23 de fevereiro de 2005, é um exemplo recente do forte apelo que o tema do empreendedorismo exerce nos governos, mesmo aqueles que tentam se apresentar como restauradores da gestão pública e da relevância do papel do Estado no cotidiano da economia e da construção do futuro do país. É a cultura empreendedora sendo entendida como panacéia para a superação dos obstáculos e adversidades!
*Diretor da Plurimus

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