quinta-feira, 4 de março de 2010

GEDUC 2010


Gestão da educação superior
Daniel Roedel*

Ao receber a divulgação do GEDUC 2010 - VIII Congresso Brasileiro de Gestão Educacional, cujo tema central é "a excelência na gestão como diferencial competitivo" e do qual participam, principalmente, dirigentes de Instituições de Ensino Superior - IES, coordenadores acadêmicos e de cursos, além de docentes, imediatamente me lembrei da edição 2009, que tive oportunidade de participar com o apoio do CRA-RJ.

Havia de minha parte, muita expectativa com relação aos temas sustentabilidade e responsabilidade social das IES. Ricardo Young, do Instituto Ethos, foi um dos palestrantes. Fez uma exposição clara e sensata a respeito da urgente necessidade de se trabalhar (e de se educar) visando a sustentabilidade socioambiental do planeta, apresentando números relevantes para confirmar suas preocupações com relação a uma orientação exclusiva para os resultados econômico-financeiros.

Ao meu lado, alguns dirigentes de IES se entreolhavam indiferentes ao tema e comentavam que a sustentabilidade pouco ou nada tinha a ver com os compromissos da educação superior. Para eles era mais urgente a busca da competitividade! Decididamente esses e outros dirigentes de IES não gostaram da exposição do Ricardo Young... Mas gostaram, e muito, de um famoso consultor, que já ocupou cargos públicos durante o infeliz período militar do país.

Em sua exposição o consultor deu dicas de como ser competitivo mesmo durante a crise (estávamos em março de 2009). No seu receituário se destacaram a renegociação dura de salários com os docentes (inclusive redução), a radicalização com os alunos inadimplentes e um maior aproveitamento do apoio governamental no preenchimento de vagas ociosas. Porém, o que causou grande conforto e satisfação na maioria dos dirigentes das IES foi a afirmação do consultor de que "... o lucro das IES era sagrado e não deveria ser mexido". Ora, mas estávamos justamente inseridos numa crise mundial decorrente da busca incessante por lucros e da financeirização do capital !!! E o consultor propunha a privatização do lucro e socialização do prejuízo... Sair da crise com mais choque de mercado e financiamento público. Aliás, recorrer ao apoio público é uma contradição dessa economia de mercado ou uma característica desse modelo?

A participação no GEDUC 2009, aliada a estudos e experiências dos anos recentes me permitiram confirmar esse forte movimento da educação superior em direção ao mercado. Hoje, o que tem predominado na gestão das IES é a busca incessante de resultados financeiros. A qualidade do ensino, o conteúdo e as metodologias perdem espaço ou têm seu campo reduzido e se subordinam a uma maximização dos ganhos financeiros de curto prazo. O tema não é novo. Aqui neste blog já publicamos algumas considerações a esse respeito.

Essa é uma prática que tem predominado em todos os ambientes submetidos à orientação neoliberal. Parece que vale tudo em nome do pragmatismo do fazer dinheiro no mercado. Os resultados estão aí na sucessão de crises, no aumento da miséria, na dilapidação do planeta, e principalmente na forte concentração de renda nas mãos de tão poucos...

E a educação superior, processo de longo prazo que deve formar cidadãos antes de formar profissionais, submetida a essa regra tem o seu escopo geralmente esvaziado para se tornar "eficiente" e "competitiva".

E então, vale a pena participar do GEDUC 2010? A responsabilidade social é tema de um dos fóruns. Mas e a audiência? Estará buscando o quê? Será que é possível nessas regras de mercado uma competitividade sustentável além da perspectiva eminentemente econômica? Que educação superior é requerida para formar cidadãos de um país que se pretende protagonista na ordem mundial?

A sociedade civil precisa se posicionar e nós voltaremos a esse importante assunto neste espaço.

*Diretor da Plurimus

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