segunda-feira, 1 de março de 2010

Homenagem


Palavra cantada, palavra escrita


Simone Amorim*

No fim de semana que passou, nos deixaram duas grandes personalidades da cultura brasileira, o sambista e compositor carioca Walter Alfaiate e o bibliófilo e empresário paulista José Mindlin. Cada um a seu modo, ambos dedicaram boa parte das suas vidas a admirar as palavras com um tipo especial de se relacionar com a linguagem. Um tipo apaixonado.

Alfaiate se relacionava com elas de forma mansa e boêmia, desde os anos 60 do século passado compunha como quem molda com palavras uma vestimenta especial para a vida. O sorriso sempre estampado no rosto parecia dizer que mais importante que o reconhecimento amplo de seu trabalho era fazer exatamente o que gostava e sem perder a elegância jamais.

Mindlin, o apaixonado pelos livros e pela palavra escrita, gostava de repetir que não saberia viver sem a companhia dos livros, muitos, milhares. A sua relação com a palavra escrita era apaixonada e voraz. Lia como quem precisa das palavras para descobrir-se, para sorrir. Os livros eram a sua casa, o seu refúgio. Difícil precisar se na verdade amava mais os livros ou a palavra escrita. Mais que um bibliófilo era, sobretudo, um leitor apaixonado.

A gente se acostuma a ter essas pessoas por perto e se orgulha de saber que são brasileiros, como nós, com prazeres que também cultivamos – samba e livros. Então quando acontece uma despedida dessas a gente sente uma pontinha de tristeza e saudade, nunca maior que a alegria de tê-los “conhecido”, admirado e compartilhado como ícones da nossa cultura brasileira.

Saudades!

*Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais pela FGV-RJ

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