quinta-feira, 14 de abril de 2011

Trabalho


Foxconn e os investimentos no Brasil

Daniel Roedel

A agência Reuters divulgou que a Foxconn Technology Group, fabricante de componentes eletrônicos para diversas empresas em todo o mundo e maior empregadora privada da China, tem interesse em investir cerca de 12 bilhões de dólares no Brasil, onde atua desde 2005.

Inicialmente, a notícia pode ser motivo de comemoração e exemplo do êxito da visita da presidente Dilma Rousseff à China.

No entanto, devemos ter cautela! A Foxconn é aquela empresa que teve forte presença no noticiário em 2010, mas não por motivo de  expansão de seus investimentos. Devido às condições de trabalho praticadas, a fábrica enfrentou greves e casos de suicídio de trabalhadores. Uma de suas unidades no Brasil, instalada em Indaiatuba-SP, também esteve em greve em 2010.

A matéria da Reuters destaca ainda que:
"O Brasil tem um dos regimes tarifários mais rigorosos da América do Sul e é um dos lugares mais caros do mundo para fazer negócios, devido à pesada carga tributária, à moeda supervalorizada e aos encargos trabalhistas*".
Se o histórico recente da empresa já é motivo de alerta com relação às condições de trabalho que serão praticadas, o fato de poder contar com  apoio público, como a isenção de PIS e Cofins, reforça a preocupação com a estratégia de gestão a ser adotada pela Foxconn na conquista do mercado nacional.

Obviamente, não se trata de rejeitar um investimento tão elevado e que pode gerar milhares de empregos no país, mas de buscar garantias de que esses empregos proporcionarão condições dignas de trabalho e não repetirão as práticas recentes em busca da "eficiência" na gestão "competitiva" da empresa, conduta que não se restrige à Foxconn.

Para reforçar esse alerta vale lembrar que, em 2009, Ignacy Sachs[1] destacava que não basta criar oportunidades de trabalho se elas ocorrerem em condições abomináveis. O trabalho deve se dar em condições decentes e que respeitem a dignidade do trabalhador. E os gestores devem ter essa clareza e prática na condução de seus grupos empresariais.

*Grifo nosso.
[1] A terceira margem – em busca do ecodesenvolvimento. São Paulo: Cia das Letras, 2009.

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