quinta-feira, 28 de abril de 2011

Nelson Werneck Sodré

Um marxista polêmico que ousou pensar um projeto para o Brasil – parte I

Hiran Roedel*

Comentários preliminares

Ao falar de Nelson Werneck Sodré não se pode deixar de situá-lo no projeto da revolução de esquerda no Brasil e de sua militância no marxismo. Ou seja, sua preocupação em estudar a formação social brasileira tinha por objetivo desvendar os elos articuladores das relações norteadoras do processo sócio-político-econômico no país para, daí, compreender as especificidades brasileiras.

A visão de totalidade, portanto, o orienta no árduo trabalho da pesquisa sobre literatura, economia, história, ideologia, cultura, o papel dos militares e dos intelectuais na política etc.. Entender esses campos e atores políticos, como se formaram e se relacionaram ao longo da história brasileira, constituía-se questão essencial para identificar os elos definidores do perfil de uma sociedade com uma forte presença colonial em seus traços fundamentais.

Mas Nelson Werneck era um homem de seu tempo e como tal deve ser visto. Nesse sentido, torna-se necessário um breve panorama sobre os cenários mundial e brasileiro ao qual está inserido, o que inclui também um breve comentário sobre o quadro teórico do marxismo no país.

O cenário mundial 

As três décadas iniciais do século XX vivenciaram a redefinição da geopolítica internacional.  O advento da primeira grande guerra imperialista (1914-1918) e a primeira revolução socialista (1917) reorientaram a correlação de forças entre as grandes potências capitalistas e ampliaram os horizontes do movimento revolucionário não só na Europa, como também o estendeu aos continentes americano e asiático. Ambos os episódios marcariam profundamente os acontecimentos desse século, pois a guerra gerou uma profunda crise no centro do capitalismo pondo em xeque as democracias liberais, o liberalismo econômico e a belle époque, enquanto a revolução bolchevique abriu uma nova perspectiva para a classe operária mundial.

As transformações sofridas pelo capitalismo, em decorrência da crise de 1929, e a gradativa afirmação do modelo fordista de produção impuseram uma nova conjuntura política no mundo. O nazi-fascismo na Europa e o New Deal de Roosevelt, nos EUA, foram as respostas intervencionistas diante da incapacidade do liberalismo em apresentar caminho alternativo à crise.

No Ocidente o novo modo de vida, sustentado na sociedade de massa e na incorporação do movimento sindical como parte do modelo sócio-econômico que se ergueria, passava a ter os EUA como centro dinâmico. Uma condição que, após 1945, sustentaria os regimes social-democratas na Europa como forma de barrar o avanço das idéias socialistas nesse continente.

No outro extremo, o stalinismo se consolidava paulatinamente a partir da disputa pelo poder na URSS entre Trotsky e Stalin, o que se intensificou, principalmente, após a morte de Lênin, em 1924. Quando, em 1928, Stalin concretizou seu controle sobre o Estado soviético e assumiu a liderança mundial na construção do socialismo, o fez, doravante, acompanhada do erguimento de um regime de força sem espaço para a crítica política e teórica ao regime. Ou seja, tal qual ocorria no ocidente capitalista, a conjuntura na URSS foi a de um centralismo personalista que, através do komintern**, repercutiu por todo o movimento comunista internacional.

As disputas que se travaram no cenário internacional entre as potências imperialistas desembocam em mais uma grande guerra. Nesta a URSS também seria envolvida a partir da invasão de seu território, em 1941, pelas forças nazistas, o que a colocou lado a lado com os EUA.

O fim do conflito apresentou um novo cenário geopolítico internacional. Consolidava-se o deslocamento do eixo dinâmico do capitalismo para os EUA que ascendeu à posição de principal potência econômica e militar mundial. As potências da Europa ocidental, por sua vez, como resposta à crise que se instalou em decorrência da Guerra, adotariam o modelo do Estado do bem-estar social financiado pelo Plano Marshall.

*Historiador, Doutor em Comunicação e Professor.
**Termo sinônimo que designava a III Internacional Comunista.

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