quinta-feira, 10 de março de 2011

Sustentabilidade


O trágico preço do “progresso”*

Tatiana Merlino

De repente, numa madrugada de junho de 2010, uma chuva de prata caiu sobre a casa de dona Ivonete Martins. Tudo brilhava, como num sonho. Porém, quando a família acordou para ir trabalhar, deparou-se com a realidade: um pó prateado havia se espalhado por toda a casa. Telhado, sala, banheiro, cozinha. Até nas panelas ele estava. O pó foi parar no quarto de dona Ivonete, de 55 anos. Quando ia dormir, lá estava ele, brilhando. Dias depois, quando foi tomar banho, a mulher percebeu que até em seu corpo o pó estava grudado. Em seguida, começaram as coceiras. Parecia picada de mosquito. A cada dia, a coceira só aumentava, e foi se estendendo ao corpo todo. Depois de um tempo, até a palma das mãos e sola dos pés estavam tomados por alergias, que se transformaram em cascas. “Eu estava toda inchada”. Para combater a coceira, ela tentou de tudo. “Querosene, álcool, vinagre”. O desespero era tanto que ela pensou até em se matar. Para completar, dona Ivonete foi demitida do emprego, pois a senhora para quem trabalhava como empregada doméstica teve medo de ser contaminada com suas alergias. Em casa, disse ao marido: “Arrume outra mulher. Essa aqui não presta mais”.

A chuva de prata não banhou apenas a casa e o corpo de dona Ivonete. Seus vizinhos, moradores do bairro de Santa Cruz, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, também foram atingidos com o pó metálico emitido pelo complexo siderúrgico ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA). De capital majoritariamente alemão, ligada ao grupo transnacional Tyssen Krupp (73,13%), com participação da Vale do Rio Doce (26,87%), a CSA foi anunciada como a siderúrgica mais moderna do mundo - recebeu investimentos de 5,2 bilhões de euros e vai produzir cinco milhões de toneladas por ano de placas de aço, exportadas para a Alemanha e Estados Unidos. É o maior investimento privado realizado no Brasil nos últimos 15 anos.

* Extraído de Caros Amigos. Para acesso clique em TKCSA.

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