quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sustentabilidade

A "cidade olímpica" e sua [in]sustentabilidade* 

Fernanda Sánchez**
As políticas urbanas neoliberais, que conhecemos no Brasil há cerca de duas décadas, vêm sendo formuladas no âmbito de uma economia simbólica que afirma visões de mundo, noções e imagens, as quais acompanham as ações de reestruturação urbana. Operações para reconversão de territórios e megaequipamentos culturais ou esportivos são acionados para soldar as forças sociais das cidades e trazidos pela mão de coalizões de promotores urbanos que apresentam projetos ditos consensuais e competitivos.

Perante as realidades da fragmentação, tais operações urbanas procuram integrar simbolicamente a cidade e envolvê-la em uma política-espetáculo. O êxito do governo brasileiro e, em especial, do Executivo municipal da cidade do Rio de Janeiro em conquistar a condição de país-sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio-2016 pode ser tomado como exemplo da produção dessa política-espetáculo.

Trazemos algumas notas acerca do Projeto Olímpico e das escolhas éticas, políticas e espaciais que o definem e que buscam sustentar a insustentável cidade que configuram. Não podemos compreender aspectos cruciais da gestão das metrópoles sem levar em consideração a importância dos megaeventos, pela ampla coalizão de atores e pelo formidável volume de recursos que são capazes de acionar, bem como por seus efeitos de ruptura nas diversas dimensões do espaço social.

Entre suas justificações, o chamado “legado”: projetos ambientais, equipamentos e instalações esportivas, transportes, inclusão social. A revisitação de outras cidades-sede permite observar que em Montreal, Atlanta, Atenas, Pequim ou Cidade do Cabo os benefícios sociais do urbanismo olímpico são frustrantes. A retórica dos efeitos positivos não se sustenta, como mostraram diversos autores na 1ª Conferência Internacional Megaeventos e Cidades, em 2010[1].

Tal avaliação procede também para o caso dos Jogos Pan-Americanos Rio-2007. Em sua dimensão urbanística, as intervenções realizadas mostraram-se pontuais, sem relação consistente com a cidade. Estava presente a lógica elitista da cidade, manifesta na estratégia de concentrar o evento em áreas nobres, visando, ao mesmo tempo, à segurança e ao conforto dos participantes e, sobretudo, oferecer ao mundo uma imagem urbana supostamente “civilizada” e “moderna”. Longe, portanto, de qualquer preocupação em utilizar o evento para redistribuir, no espaço da cidade, as benfeitorias.

A Barra da Tijuca e seu entorno foram eleitos para centralizar as intervenções. Mediante uma ideia amesquinhada de cidade, foi mostrado como sinal de êxito o sucesso imobiliário do empreendimento da Vila Pan-Americana. Ressaltamos, contudo, que ela teve como principal efeito urbano alimentar o processo especulativo de valorização das terras.

Em outra área do Rio de Janeiro se encontra a maior instalação esportiva edificada para aquele evento: o Estádio Olímpico conhecido como “Engenhão”, na zona norte. Não guarda nenhuma relação com o bairro onde está instalado, enquanto equipamento propulsor de desenvolvimento urbano, como foi então justificado. Esse monumental equipamento obedece a uma lógica relacionada com outra escala: a da cidade olímpica.

Ainda que a celebração de tal evento, em 2007, nos permita hoje observar seus escassos efeitos urbanos positivos, reconhecemos que o trabalho político-simbólico em torno de sua realização permitiu à coalizão dominante construir a ideia de sucesso a respeito desse que foi considerado o primeiro megaevento carioca do século XXI. A partir de então, o consenso vem sendo administrado mediante a venda de uma mercadoria difusa, mas poderosa: a ilusão do renascimento urbano por meio dos Jogos.

Apesar da pressão resultante desse expressivo investimento simbólico em busca de consenso, conflitos foram explicitados, assim como algumas conquistas. Entre elas, destacamos a permanência do bairro popular Vila Autódromo diante das sucessivas ameaças de remoção. Também de grande relevância política, urbanística, ambiental e social foi a defesa do Parque do Flamengo como patrimônio público, então ameaçado por empreendimento privado para a Marina da Glória.

O projeto para os Jogos de 2016 e a chamada “conquista” do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada foram o desenlace de um longo processo no qual vem se afirmando uma concepção de cidade e, portanto, de políticas urbanas profundamente influenciada pelo pensamento neoliberal.

As formas pelas quais se impõe esse projeto indicam ainda uma nova articulação entre poder político e econômico local com empresas e instituições extralocais. Com efeito, o planejamento urbano voltado aos megaeventos reúne um conjunto de processos que constrói uma “cidade da exceção”, conforme Carlos Vainer. Acrescente midiatização dos megaeventos passa a controlar diversos aspectos da imagem urbana, com impactos nas liberdades civis e no direito à cidade.

Para esse evento, segue a tônica geral que enaltece a modernidade espetacular da Barra da Tijuca. Mesmo com a inclusão da Zona Portuária no projeto, como novo símbolo-vitrine da ideia de cidade, tal orientação permanece. A reedição carioca do modelo waterfront praticado em diversas cidades do mundo combina, em sua agenda, equipamentos culturais, âncoras dos processos de renovação, torres de escritórios e moradias de alto padrão.

As obras foram concedidas integralmente a um consórcio de grandes empresas privadas. A operação, que mobilizou fundos públicos do FGTS, assenta-se em área com cerca de 75% de terrenos de propriedade pública. Essa notável situação fundiária do Porto, não fosse a orientação pró-mercado do projeto, permitiria ao poder público desenvolver programas de interesse social, como equipamentos metropolitanos, habitação inclusiva e lazer. Entretanto, não constam no projeto instrumentos claros de captura pública de mais-valias para esses fins. A privatização do planejamento, a execução das obras e a gestão da área por quinze anos efetivam a transferência de bairros inteiros para o controle privado. Esse quadro expressa a desigual distribuição de riscos e benefícios entre o setor público e o privado, naquela que constitui a maior PPP (parceria público-privada) do país, com a privatização dos ganhos e a socialização das perdas. 

Os promotores dos megaeventos, em nome da “inserção competitiva” da cidade, convocam os cidadãos a um engajamento irrestrito. Nesse contexto, a cidade-mercadoria vem se atualizando, demandando novos esforços de reflexão. Ao estimular a reinvenção da cidade e sua nova inscrição mundial pela via dos megaeventos e dos grandes projetos urbanos, esse modelo de cidade e seu urbanismo de resultados têm contribuído para potencializar a desigualdade: ao mesmo tempo que são renovados os espaços em ritmo intenso e a prazo fixo, ficam diretamente comprometidas as receitas públicas e as políticas sociais, favorecendo a multiplicação de conflitos. 

*Extraído de Le Monde Diplomatique Brasil
**Professora do Departamento de Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora do CNPq, do GPDU-PPGAU-UFF e do laboratório Ettern- Ippur- UFRJ. 
[1] Essa conferência foi organizada pelo Ettern-Ippur-UFRJ e pelo GPDU-PPGAU-UFF. Realizada na Universidade Federal Fluminense, em 2010, contou com a participação de pesquisadores como John Horne, Carlos Vainer, Anne-Marie Broudehoux, Alan Mabin, Stavros Stavrides e Raquel Rolnik.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Ciência e mercado

Low science*
Thomaz Wood Jr.** 

O frenesi da globalização e seus descontentes. Consta que tudo começou com o cozinheiro Carlo Petrini. Na década 1980, este italiano participou de uma campanha contra a abertura de uma loja McDonald’s em Roma. Nasceu pouco depois o movimento Slow Food, voltado para a preservação da cozinha regional e tradicional, contra a mesmice e a pressa do onipresente fast-food. O sucesso cruzou fronteiras e atraiu seguidores em mais de 150 países. Na esteira, vieram o slow living, o slow travel e o slow cities. Como guarda-chuva, cunhou-se o termo slow movement.

Um filósofo norueguês – Guttorm Floistad – conferiu ao movimento poesia e princípios: “A única coisa que podemos tomar como certeza é que tudo muda. A taxa de mudança aumenta. Se você quer acompanhar, melhor se apressar. Esta é a mensagem dos dias atuais. Porém, é útil lembrar a todos que nossas necessidades básicas não mudam. A necessidade de ser considerado e querido! A necessidade de pertencer. A necessidade de estar próximo e de ser cuidado, e de um pouco de amor! E isso é conseguido apenas pela desaceleração das relações humanas. Para ganharmos controle das mudanças, devemos recuperar a lentidão, a reflexão e a capacidade de estarmos juntos. Então encontraremos a verdadeira renovação”.

Agora, da terra do resistente Asterix, nos chega uma nova onda do slow movement: a slow science. Seus arautos condenam a cultura da pressa e do imediatismo que invadiu, nos últimos anos, as universidades e outras instituições de pesquisa. A fast science, segundo os rebeldes franceses, busca a quantidade acima da qualidade. Aprisionados pela lógica do “produtivismo” acadêmico, os pesquisadores tornam-se operários de uma linha insana de montagem. E quem não se mostrar agitado e sobrecarregado, imerso em inúmeros projetos e atividades, será prontamente cunhado de improdutivo, apático ou preguiçoso.

Os cientistas signatários da slow science entendem que o mundo da ciência sofre de uma doença grave, vítima da ideologia da competição selvagem e da produtividade a todo preço. A praga cruza os campos científicos e as fronteiras nacionais. O resultado é o distanciamento crescente dos valores fundamentais da ciência: o rigor, a honestidade, a humildade diante do conhecimento, a busca paciente da verdade.

A “mcdonaldização” da ciência produz cada vez mais artigos científicos, atingindo volumes muito além da capacidade de leitura e assimilação dos mais dedicados especialistas. Muitos trabalhos são publicados, engrossam as estatísticas oficiais e os currículos de seus autores, porém poucos são lidos e raros são, de fato, utilizados na construção da ciência.

Os defensores da slow science acreditam que é possível resistir à fast science. Sonham com a possibilidade de reservar ao menos metade de seu tempo para a atividade de pesquisa; de livrarem-se, vez por outra, das demandantes atividades de ensino e das tenebrosas atividades administrativas; de privilegiar a qualidade em detrimento da quantidade de publicações; e de preservar algum tempo para os amigos, a família, o lazer e o ócio.

A eventual chegada da onda da slow science aos trópicos deve ser observada com atenção. Por aqui, cruzará com a tentativa de fomentar a fast science. Entre nós, o objetivo de aumentar a produção de conhecimento levou à criação de uma slow bureau-cracy, que avalia e controla o aparato científico. A implantação gradativa da lógica fast, com seus indicadores e suas métricas, pretende definir rumos, estabelecer metas, ativar as competências criativas da comunidade científica local e contribuir para a construção do futuro da augusta nação. Boas intenções!

Os efeitos colaterais, entretanto, são consideráveis. A lógica fast está condicionando os cientistas operários a comportamentos peculiares. Sob as ordens de seus capatazes acadêmicos ou por iniciativa própria, eles estão reciclando conteúdos para aumentar suas publicações; incluindo, em seus trabalhos, como autores, colegas que pouco ou nada contribuíram; e assinando, sem inibição, artigos de seus alunos, aos quais eles pouco acrescentaram. Tudo em prol da melhoria de seus indicadores de produção.

Enquanto as antigas gerações vão se adaptando, aos trancos e barrancos, ao modo fast, as novas gerações de pesquisadores já são formadas sob os princípios da nova doutrina. Aqui, como ao norte, vão adotando o lema da fast science: publish or perish (publique ou desapareça). E, se o objetivo é publicar, vale tudo, ou quase tudo. Para onde vão os cientistas e a ciência? O destino não é conhecido, mas eles estão indo cada vez mais rápido. 

*Extraído de Carta Capital
**Administrador e professor universitário

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Steve Jobs

Idiotas, estúpidos e simpatizantes

Thomaz Wood Jr**

A sacada foi de Tom McNichol, em texto veiculado no website da revista The Atlantic. Escreveu o autor: “Steve Jobs foi um visionário, um inovador brilhante que remodelou indústrias inteiras pela força de sua vontade, um gênio na capacidade de dar aos consumidores o que eles queriam, mas não sabiam que queriam. Ele foi também um babaca de primeira classe”.

Isso mesmo, leitor, o cultuado criador da Apple, super-herói dos negócios, fênix do empreendedorismo, mago dos produtos eletrônicos, foi, certamente, brilhante e carismático. Porém, revela a biografia escrita por Walter Isaacson, foi também petulante, rude e hipercontrolador. Na empresa, humilhava seus funcionários e assumia o crédito pelo trabalho dos outros. Não era muito melhor na vida pessoal: estacionava seu carro em lugares reservados para deficientes e evitou reconhecer a paternidade de sua filha. Em suma, era uma contradição ambulante.

A leitura da biografia de Jobs, best seller em vários rincões do planeta, talvez estimule alguns babacas que se acham gênios a exteriorizar sua estupidez. Quiçá, como sugere McNichol, a nova safra de livros de negócios nos brinde com títulos tais como: Os Sete Hábitos dos Babacas Altamente Eficazes, O Babaca minuto ou Quem Foi o Babaca que Mexeu no Meu Queijo? Aos quais poderíamos acrescentar: O Monge e o Executivo Babaca, A Inteligência Emocional do Babaca e Babaquice para Dummies.

Apesar dos casos de Jobs e de outros gênios que se comportam frequentemente como babacas, contudo, não se pode afirmar que haja causalidade entre uma característica e outra. Robert Sutton, um professor de gestão da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e autor de um livro sobre o tema – The No Asshole Rule: Building a civilized workplace and surviving one that isn’t –, acredita que a presença de idiotas na empresa envenena o ambiente e induz à saída de bons funcionários. Sutton define idiotas como indivíduos que propositalmente fazem seus colegas se sentirem mal sobre si mesmos, hostilizando especialmente os mais fracos.

Então, se idiotas, estúpidos e congêneres são ruins para o ambiente organizacional e para os negócios, como explicar o caso Jobs? E como explicar dezenas de outros casos? De fato, é difícil encontrar uma organização que não tenha pelo menos um babaca na diretoria, eventualmente no posto de primeiro executivo.

Certo nível de babaquice é natural e aceito. Somos frequentemente tolerantes em relação às excentricidades e excessos de amigos e colegas. E eles com os nossos. Nas empresas, o nível de tolerância à babaquice aumenta com a distância relativa entre o babaca e o tolerante (primeiro axioma). Presidentes são modestos babacas com seus diretores, mas podem ser tornar tremendos babacas com gerentes juniores. Além disso, menor o nível na pirâmide, maior o nível exigido de tolerância (segundo axioma). Na base, encontra-se o hipertolerante estagiário, que atura a babaquice de todos acima dele e só consegue ser babaca com seu irmão mais jovem, ou com seu cachorro. Mas o seu dia de glória chegará.

Devemos aceitar que nem todos os estúpidos são estúpidos em tempo integral. Os babacas mais experientes aprendem a dosar sua babaquice para obter o melhor efeito. Alternam momentos de fúria intimidadora com outros de relativa ternura, para cativar os corações mais sensíveis e sossegar os estômagos mais frágeis. Quando no topo, costumam contar com ajudantes de ordem, que limpam os destroços que deixam no caminho. Além disso, a estupidez pode ter ao menos uma vantagem: ajudar a fazer o paquiderme corporativo andar, enfrentando grupos de poder e desafiando o status quo.

Pergunta-chave: qual será o efeito da canonização de Jobs e da popularidade de sua biografia? McNichol não acredita que a nova bíblia dos negócios afete o comportamento de gestores de nível médio, de temperamento equilibrado. O mais provável é que torne patrões que já são estúpidos ainda mais estúpidos, piorando o clima em suas empresas.

O autor toca um ponto importante. Livros de negócios, especialmente os mais populares, não são comprados para ser lidos. Eles servem principalmente para adornar estantes e garantir ao comprador algumas “tiradas” para conversas de corredor. O conteúdo é quase sempre óbvio e o sucesso vem do eco que provoca nas estepes desoladas das mentes dos executivos: “Puxa, é exatamente o que eu penso!”

Nesse sentido, a premonição de McNichol deve ser considerada com seriedade. A eventual leitura, dinâmica e seletiva, da biografia de Steve Jobs pode captar apenas os vícios do personagem, ajudando a justificar e promover os vícios similares do babaca leitor. Preparai-vos, tolerantes do mundo!

*Extraído de Carta Capital
**Administrador e professor universitário

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Veta, Dilma!

Código Florestal e pedido de referendo popular*

Leonardo Boff**

Lamento profundamente que a discussão do Código Florestal foi colocada preferentemente num contexto econômico, de produção de commodities e de mero crescimento econômico.

Isso mostra a cegueira que tomou conta da maioria dos parlamentares e também de setores importantes do Governo. Não tomam em devida conta as mudanças ocorridas no sistema-Terra e no sistema-Vida que levaram ao aquecimento global.

Este é apenas um nome que encobre práticas de devastação de florestas no mundo inteiro e no Brasil, envenenamento dos solos, poluição crescente da atmosfera, diminuição drástica da biodiversidade, aumento acelerado da desertificação e, o que é mais dramático, a escassez progressiva de água potável que atualmente já tem produzido 60 milhões de exilados.

Aquecimento global significa ainda a ocorrência cada vez mais frequente de eventos extremos, que estamos assistindo no mundo inteiro e mesmo em nosso país, com enchentes devastadoras de um lado, estiagens prolongadas de outro e vendavais nunca havidos no Sul do Brasil que produzem grandes prejuízos em casas e plantações destruídas.

A Terra pode viver sem nós e até melhor. Nós não podemos viver sem a Terra. Ela é nossa única Casa Comum e não temos outra.

A luta é pela vida, pelo futuro da humanidade e pela preservação da Mãe Terra. Vamos sim produzir, mas respeitando o alcance e o limite de cada ecossistema, os ciclos da natureza e cuidando dos bens e serviços que Mãe Terra gratuita e permanentemente nos dá.

E vamos sim salvar a vida, proteger a Terra e garantir um futuro comum, bom para todos os humanos e para a toda a comunidade de vida, para as plantas, para os animais, para os demais seres da criação.

A vida é chamada para a vida e não para a doença e para morte. Não permitiremos que um Código Florestal mal intencionado ponha em risco nosso futuro e o futuro de nossos filhos, filhas e netos. Queremos que eles nos abençoem por aquilo que tivermos feito de bom para a vida e para a Mãe Terra e não tenham motivos para nos amaldiçoar por aquilo que deixamos de fazer e podíamos ter feito e não fizemos.

O momento é de resistência, de denúncia e de exigências de transformações nesse Código que modificado honrará a vida e alegrará a grande, boa e generosa Mãe Terra. Agora é o momento da cidadania popular se manifestar. O poder emana do povo. A Presidenta e os parlamentares são nossos delegados e nada mais. Se não representarem o bem do povo e da nação, de nossas riquezas naturais, de nossas florestas, de nossa fauna e flora, de nossos rios, de nossos solos e de nossa imensa biodiversidade perderam a legitimidade e o uso do poder público é usurpação. Temos o direito de buscar o caminho constitucional do referendo popular. E aí veremos o que o povo brasileiro quer para si, para a humanidade, para a natureza e para o futuro da Mãe Terra.

*Extraído de Carta Maior
**Teólogo e escritor.