quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Video-jogos e educação

Quando eu, tu, ele, nós experimentamos: a descrição de velhos e novos mundos


Isa Ferreira Martins*

- Joana, resolvi experimentar! E nem quero saber o que vão dizer.
- Mas onde você vai fazer isso? Em casa mesmo?
- Não sei. Mas que vou experimentar, vou. Na escola te conto.
E Maria foi para casa, decidida. Ao chegar, imediatamente ligou para Clara e Marcos, não queria ser surpreendida pela chegada inesperada deles. Estavam longe. Mesmo assim, trancou a porta e fechou as cortinas. Ligou a TV. Apertou botões que achava saber o que eram. Apertou algum que trouxe a imagem digital. Viu um mundo de cores, formas geométricas, dimensões e movimentos que não sabia controlar.
Teve uma sensação de incompetência e desafio. Segurava o controle muito forte. Apertava botões e setas. Aos poucos compreendia como funcionavam. Começou a controlar os movimentos dos personagens. Personagens? Pensou. Como é que, sendo professora de Língua Portuguesa há vinte anos, ninguém ainda havia apresentado a ela aquela ficção?
Colocou o celular para despertar próximo do horário da chegada de todos. Não poderia ser pega ali, mexendo nas coisas dos filhos. Começou a jogar, de qualquer jeito. Jogou não, experimentou. Estava ao menos feliz por ter rompido a barreira do desconhecido. Há 5 horas só sabia o que era um Game pela boca dos outros ou pelas telas que via. O celular despertou. Guardou tudo. Foi fazer o jantar. Quando Clara chegou, pediu: filha, me ensina como funciona e “se joga um Game”. Tá brincando, respondeu Clara. Mas percebeu que não. Então, ficou muito feliz de explicar quais eram as regras, fases, que era possível jogar também pelo computador, sozinho, em grupo etc.

Em grupo???!!!! Espantou-se.

– Pode uma turma inteira jogar?
– Dependendo do Game, pode.
Após 15 dias, sua aula sobre “A Descrição” estava preparada. Pediu que um estudante explicasse (a tela estava projetada) como tudo funcionava, quem eram os personagens, o que precisavam conquistar, o que teriam de fazer para isso. Alguma relação com a realidade? Perguntou Maria para a turma. Seguiram jogando entre si. Maria também queria mostrar que sabia e jogou um pouquinho. Após esta inicial experimentação, ela pediu que fossem anotando quais eram as características externas dos personagens. Depois pediu que indicassem o que achavam das personalidades e comportamentos dos mesmos, e também as sensações e sentimentos experimentados pelos próprios estudantes. O conceito de Descrição objetiva (externa) e subjetiva (pautada na opinião, sentimento etc de cada um) estava, então, sendo trabalhado de forma visual e concreta.
Ao final da aula, contou como havia aprendido sobre os Games. Combinaram que, ao menos uma vez por mês, explorariam as matérias da escola com base em um Game. Pediu sugestões. Já indo embora, ia desejar boa tarde quando ouve:
– Mas, professora, por que você resolveu aprender sobre Games?
– Porque tenho duas grandes paixões: o conhecimento e vocês.

*Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Rio de Janeiro / Doutoranda em Educação da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ / Mestre em Literatura Brasileira e Teorias de Literatura pela Universidade Federal Fluminense – UFF

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