quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O processo da escrita

Ninguém nasce escritor: a consciência sobre o processo da escrita


Isa Ferreira Martins*


Quanto tempo você leva para levantar da cama, se arrumar, almoçar, escovar os dentes, contar aquela novidade, escrever uma mensagem para uma pessoa especial? Bom, sabemos que cada pessoa tem seu ritmo e que cada atividade exige um tempo. Isso, conhecemos, chame-se processo. Por que então chegamos ao Ensino Médio ou à vida profissional agindo como se escrever fosse algo automático, rápido?
Escrever não é tarefa fácil para a maioria, inclusive de escritores renomados. É um processo trabalhoso. Mas o que seria a vida sem versos apaixonados? Sem aquela música que traduz perfeitamente como você se sente? Sem aquele conto de fadas? Sem aquela história de suspense, terror ou amor!? Imagine a vida sem seu autor, criador, artista favorito?
Mas o que isso tem a ver com tempo que se leva para almoçar ou levantar da cama? Com raras exceções, já ouvimos artistas declararem que levaram um tempo para fazer alguma coisa considerada incrível. Mas se um reconhecido escritor trabalha no texto dele, respeita o processo para que a melhor versão da sua narrativa esteja finalizada, como nós, e milhares de Estudantes, podemos achar que escrever é só colocar ideias no papel. Mas e quando a ideia não vem? Ou vem de qualquer jeito?

Processo da escrita
Este é um tema pouco trabalhado. Ensinar alguém as técnicas de escrita demanda tempo. Precioso tempo. Mas o mesmo tempo pode ser melhor aproveitado se o Estudante amadurecer textualmente diante do desafio de cada proposta de redação. Ele precisa perceber que ao entregar ao professor logo a primeira versão do texto (rascunho, muitas vezes) está quase condenado não só a perda de pontos, mas a apresentar textos inacabados ou “ruins”, resultado por não ter refletido melhor, trabalhado suas ideias e estruturas do texto.
“Eu não sei ou não gosto de escrever.” “É muito difícil.” Estas frases são campeãs. Mas um aliado para trabalharmos a consciência sobre o processo de escrever, de forma menos “dolorosa” para o estudante, é o nosso tão presente, porém esquecido WORD. Sim, o Word. Não se preocupe que ele indique que a palavra está escrita de forma errada, que houve “escorrego” na concordância etc. Se todos os problemas de redação fossem esses, muitos professores demorariam um terço do tempo nas correções.
Uma única redação ou tema pode ser trabalhado e avaliado a cada etapa do processo. Por exemplo, ao propor uma narrativa de suspense, o rascunho não será apagado da primeira página. Na aula seguinte, o Estudante cola-o na segunda página e trabalha sua primeira versão. O professor faz os apontamentos de onde poderia ser melhorado, criado um suspense, inserido um personagem... O estudante copia, na terceira página, a versão anterior e trabalha o texto partindo dos comentários. Caso o resultado final dessa reescritura tenha sido satisfatório, o processo de escrita é encerrado. Se não, mais uma? Avalie.

Depois de todo esse processo, é justo que alguns textos ganhem status. Um rápido concurso em que outra turma vote na melhor narrativa pode ser motivador. Que tal se as três eleitas forem apresentadas também no mural da escola?
Mas só se o autor-aluno autorizar, por escrito, a divulgação do texto dele, claro!

*Professora da Rede Pública de Ensino do Estado do Rio de Janeiro, Doutoranda em Educação da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e Mestre em Literatura Brasileira e Teorias de Literatura pela Universidade Federal Fluminense – UFF

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