quinta-feira, 22 de setembro de 2011

As economias

Economia, Cultura e Criatividade

Simone Amorim*

Tema muito discutido atualmente, talvez por conta da efervescência do momento de grandes expectativas de investimentos na cidade do Rio de Janeiro, a Economia Criativa tem despertado interesse de pesquisadores, empreendedores e até atenção especial do Estado. Como todo novo termo que “cai na boca do povo” são necessários esclarecimentos, já que por vezes ele tem sido confundido como sinônimo de Economia da Cultura.

A chamada Economia Criativa é aquela composta pelas indústrias criativas, isto é, todos os empreendimentos que têm como matéria-prima a criatividade, a imaginação e a inovação, não se restringindo a produtos, serviços ou tecnologias, mas englobando também processos, modelos de negócios e modelos de gestão.  

Já Economia da Cultura, poderíamos definir de forma bastante resumida e superficial, é aquele segmento da economia que se ocupa especificamente das atividades organizativas – e produtivas – em torno da Cultura. Seus bens, equipamentos, atividades etc.

Dada a abrangência dos conceitos, a tendência é designar, separadamente, “Indústrias Criativas” e “Indústrias Culturais”, com a finalidade de deixar claro o significado e conteúdo de cada expressão. É sutil a diferença, principalmente porque os bens de cultura pressupõem criatividade, e não necessariamente tudo que é produzido pelas indústrias criativas pode ser caracterizado como um produto cultural, no sentido mais específico do termo.

Neste caso teríamos que ter em mente uma definição bastante consensual do que se entende por Cultura – e aí, os especialistas no tema concordarão que estamos longe de chegar a um consenso. O mais próximo que chegamos disso é adjetivar o campo formulador do conceito, assim temos o conceito sociológico de cultura, o antropológico, a perspectiva das políticas culturais etc.

Em resumo, o campo da criatividade abarcaria o design, a publicidade, a moda, os jogos eletrônicos etc. nesse sentido o jingle de uma propaganda, um website de relacionamento, uma mostra de design de mobiliário de baixo custo, ou ambientalmente alternativo, etc. são exemplos das indústrias criativas. Já as indústrias culturais (o termo não é muito comum, apesar de ser utilizado por alguns autores, justamente por pressupor que as atividades em trono da cultura não são 100% adaptáveis à lógica produtiva) seriam compostas pelos museus, o cinema, os eventos de cultura local nas comunidades como Folia de Reis, Carnaval, as festas católicas etc. Essas atividades geram emprego, movimentam recursos e mobilizam público e por muito tempo foram desconsideradas pela economia até que se percebeu que são responsáveis por parte considerável do PIB dos países.

O histórico do termo e uma reflexão aprofundada do assunto podem ser pesquisados em duas boas obras de referência disponíveis em português: A Economia da Cultura, da economista francesa Françoise Benhamou e Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável, da Administradora brasileira, Ana Carla Fonseca Reis.

Esperamos que o Rio de Janeiro não perca a oportunidade de aproveitar a boa maré de investimentos e além de atrair muitos criativos para a cidade, ainda consiga estruturar o segmento cultural  de forma a contribuir com o desenvolvimento econômico e social da cidade.

*Gestora cultural, mestre em bens culturais e projetos sociais

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