quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Gestão e sustentabilidade

O VI ENCAD e a sustentabilidade I

Daniel Roedel

Como parte das comemorações do Dia do Administrador, no último dia 9 o CRA-RJ realizou o VI Encontro dos Administradores do Rio de Janeiro (ENCAD). Como membro da Comissão de Desenvolvimento Sustentável do Conselho tive oportunidade de participar do painel de abertura, cujo tema abordou "Gestão, Sustentabilidade e Resultados".

Minha reflexão inicial se concentrou na seguinte questão: é possível compatibilizarmos sustentabilidade e gestão empresarial?  Se considerarmos os rumos atuais que a gestão vem assumindo dentro da intensificação competitiva, ela pode apontar mais um impasse do que uma perspectiva de contribuição da Administração com o desenvolvimento sustentável.

Além disso, este ano completam 100 anos de uma obra de referência no pensamento e na ação administrativa; trata-se do livro de Frederick Winslow Taylor, Princípios de Administração Científica, cuja racionalidade econômica ainda hoje orienta a formação de administradores. Muitos de nós aprendemos que os princípios preconizados por Taylor eram científicos e, portanto, poderiam ser replicados em qualquer situação. Em grande parte de sua abordagem foi desconsiderada a ideologia ali embutida, isentando-se a prática da administração de um compromisso político com os conflitos na relação capital X trabalho.

Embora tenha enfrentado fortes resistências no movimento operário ocidental à época o Taylorismo foi adotado na nascente União Soviética, ou seja, após a vitória da revolução socialista. O êxito desse Movimento da Administração Científica foi favorecido pela necessidade de rápida expansão e internacionalização dos mercados e contribuiu para o crescimento econômico e o fortalecimento da indústria. A administração e sua ênfase na eficiência econômica gradativamente se legitimou e ampliou seu campo de atuação.

Mas e agora? Estamos numa época em que cada vez mais se questiona e constata o esgotamento de uma eficiência eminentemente econômica. Tanto pelos problemas ambientais decorrentes quanto pela precarização das condições sociais de trabalhadores e do entorno das empresas. A intensificação da eficiência e produtividade em bases estritamente econômicas tem acelerado problemas e evidenciado que a propagada excelência da gestão não universaliza suas práticas sendo, portanto, sempre excludente num processo que pode ser considerado darwinismo empresarial.

É claro que não se pretende imputar a Taylor e seus princípios a responsabilidade pelo atual estado de precariedade socioambiental. Antes dele, Karl Marx já alertava para esse caráter racional e intenso de exploração econômica sob o capitalismo.

O que cabe a nós Administradores é tentar refletir sobre os desdobramentos da prática dominante de gestão atual e propor um outro modo que efetivamente equilibre os resultados econômicos com a mitigação de problemas ambientais e que promovam a justiça social. Tudo isso num contexto em que os desastres ambientais decorrentes de atividades empresariais se multiplicam e o trabalho análogo à condição de escravidão é amplamente denunciado.

E isso é possível? Foi o que tentamos apresentar no evento e que resumiremos neste espaço nas próximas semanas!

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