quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nelson Werneck Sodré

Um marxista polêmico que ousou pensar um projeto para o Brasil - final

Hiran Roedel*

Prosseguindo em seus estudos, em 1961 Nelson Werneck lançou mais um livro, A Ideologia do Colonialismo e no ano seguinte, provavelmente o livro que lhe causou maior polêmica: Formação Histórica do Brasil. Neste faz um estudo exaustivo do processo histórico brasileiro defendendo a existência de marcas do modo de produção feudal coexistindo com o escravismo que predominou em regiões cuja produção em larga escala era voltada à exportação. Ou seja, onde não havia o vínculo direto com o mercado externo, ou quando o havia não se caracterizava como uma produção em larga escala, ali teriam se desenvolvido relações típicas de feudalidade transplantadas do imaginário metropolitano.

Com o golpe de 1964, o ISEB foi extinto e Nelson Werneck teve seus direitos políticos cassados por dez anos. No ano seguinte publicou Ofício de Escritor, O Naturalismo no Brasil, As Razões da Independência e A História Militar do Brasil, no mesmo ano em que algumas de suas obras começam a ser recolhidas pela repressão. Contudo, mesmo em meio ao acirramento das tensões políticas internas Nelson Werneck prosseguiu produzindo e, em 1966, lançou História da Imprensa no Brasil, além de, em 1968, mais quatro livros: Fundamentos da Economia Marxista, Fundamentos da Estética Marxista, Fundamentos do Materialismo Histórico e Fundamentos do Materialismo Dialético.

Nelson avançava na militância da luta ideológica como forma de resistência à ditadura, o que o fazia em consonância com a estratégia do PCB de não adotar a luta armada contra o regime civil-militar. Sendo assim, em Síntese de História da Cultura Brasileiro, de 1970, traça o processo histórico de formação da cultura no país relacionando as transformações econômicas e as características de classe na evolução desta ao longo dos tempos.

Nessa obra, a composição do campo cultural brasileiro é vista de modo articulado com o dinamismo sócio-econômico.  O caráter de classe se constitui, desse modo, no elo fundamental para se explicar a estética que a cultura assumiu em suas diversas épocas. É o que lhe permite demonstrar o perfil dos novos valores que então assumia a cultura com o avanço da indústria cultural no país pós-64.

Sua produção de escritor prosseguiu. Dentre várias obras, pode-se destacar A Coluna Prestes (1978), Vida e Morte da Ditadura, Contribuição à História do PCB e Materialismo Histórico no Brasil, todos de 1984. Em 1987 mais uma obra ligada ao campo cultural: Literatura e História no Brasil Contemporâneo e no ano seguinte publica Em Defesa da Cultura.

Persistindo em sua preocupação na compreensão da dinâmica da formação social brasileira na fase do capitalismo e de sua classe dominante, publicou, em 1990, Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil. Diante da organização da hegemonia da ideologia neoliberal que impôs o pensamento único como condição para a interpretação da realidade social, Nelson Werneck escreveu A farsa do Neoliberalismo, em 1995.

Percebe-se a dedicação e preocupação que Nelson Werneck teve na busca dos elos explicativos da formação social brasileira. Muito ficou por dizer, pois um estudo detalhado ainda carece ser realizado sobre a obra do escritor que ousou pensar o Brasil sem medo de polêmicas e de patrulhamentos políticos-ideológicos. A diversificação de seus títulos demonstra a originalidade, perspicácia e honestidade intelectual desse pesquisador marxista.
 
*Historiados e Doutor em Comunicação

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