quinta-feira, 21 de junho de 2012

Jorge Amado

RIO -54
Simone Amorim*

A última semana ocupou os cariocas de informações e deformações que circularam abundantes pela cidade. A Rio + 20 termina com a definição de um acordo que expresse o teor das preocupações das nações acerca do desenvolvimento pretendido para os próximos anos. Pretendido ou praticado, o saldo das conversações não aponta para um consenso nas estratégias dos que podem muito e fazem pouco com aquelas dos que podem pouco e fazem quase nada.

Na condição de espectadora daquelas que parecem ser as únicas com razoável rapidez de fluxo pela cidade esses dias – as ideias – destaco um fato ocorrido nesta semana, que dentre todos os outros, na minha opinião merece grande destaque, inclusive, pelo poder de ilustrar alguns outros: Gabriela, cravo e canela. A readaptação para a TV, do romance escrito há 54 anos pelo baiano Jorge Amado.

A obra desde que lançada, em 1958, é sucesso em todo o mundo, já tendo sido traduzida para centenas de países; o folhetim para TV, iniciado esta semana descreve com tanto sucesso a trama riquíssima composta pelo escritor que ao assistir nos vemos nós mesmos na Bahia da década de 1920 onde a trama se desenrola. A trilha sonora original da primeira adaptação para a TV (1975) encarrega-se desse transporte entre os dois mundos. Primoroso trabalho de cor, som, imagem, texto.

É aqui que proponho uma estratégia alternativa, já que não chegamos ao sublimado consenso: no lugar de debatermos o futuro do planeta, proponho arrumarmos as malas e voltarmos todos ao engenhoso universo do passado local concebido por Jorge Amado. Ao universo onde a cultura e os costumes do local – mutante, como veremos ao desenrolar da trama – tem tons, cheiros, conflitos e soluções locais. Um passado onde o convívio na cidade é um espaço privilegiado de trocas e as pessoas são os grandes protagonistas da História. Um passado sem essa história de salvar a natureza e o ambiente, mas de desenvolvimento humano, social e cultural.

E para fechar, as palavras do grande mestre Celso Furtado, estampadas em uma das muitas idéias circulantes pela cidade esta semana: “Se a política de desenvolvimento objetiva enriquecer a vida dos homens, seu ponto de partida terá que ser a percepção dos fins, dos objetivos que se propõem alcançar os indivíduos e a comunidade. Portanto a dimensão cultural dessa política deverá prevalecer sobre todas as demais”.

Ai que falta os Jorges, Celsos e tantos outros fazem nessas horas...

*MSc em Bens Culturais e Projetos Sociais, Gestora Cultural, consultora da Plurimus Consultoria

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