quinta-feira, 16 de março de 2023

Sustentabilidade e mercado

A armadilha do desenvolvimento sustentado*

José Goulão

E de repente tudo se tornou sustentável. Dos mais solenes discursos dos poderes à publicidade mais assanhada instando aos mais desenfreado consumismo, a “sustentabilidade” tornou-se um mandamento inapelável; ignorando nós se muitos dos doutrinadores saberão do que estão a falar. Em prol da sustentabilidade faz-se uma mixórdia de conceitos onde cabem a ecologia, o combate às mudanças climáticas, a pegada de carbono e respectiva neutralização, o efeito de estufa, o degelo, as energias renováveis, o desenvolvimento sustentável; num ápice, as coisas que consumimos no dia-a-dia tornaram-se recicláveis, compostáveis, biodegradáveis, obrigatoriamente biológicas. Circula muito e constante ruído para nos obrigar a assimilar coisas de que a generalidade das pessoas não fazem ideia. Ora nada disto é inocente, conjuntural e fortuito.

Embalados por tão poderosa como compulsória campanha, caminhamos assim, promete-se, para o melhor dos mundos. E, milagre dos milagres, nada mudou para que isso acontecesse, a não ser “a consciência” do sistema. O capitalismo, o monstro cujas entranhas geraram a crise ambiental em que grande parte do planeta está mergulhado, promete agora limpar a sujeira que provocou - gerando para isso novos negócios. E já sabe como vai fazê-lo: através do desenvolvimento sustentado. Isto é, o capitalismo, na sua versão mais agressiva, o neoliberalismo, tornou-se “verde”, ecologicamente correcto.

Alcançou-se assim a quadratura do círculo. E, a par da crise ambiental, estamos agora mergulhados também na mais insustentável das mentiras.


Extraído de O lado oculto

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Manifesto

Administração sem democracia é tirania

Daniel Roedel

O ambiente de atuação profissional do Administrador tem se tornado complexo, instável e acirrado por diferentes demandas, cujas origens estão além do espaço organizacional. Assim, ser Administrador é ir além das tradicionais eficiência e eficácia. Demanda negociar interagir e compreender a diversidade, as diferenças e a culturas, consolidadas e emergentes, que se apresentam na sociedade, e que por vezes confrontam as práticas organizacionais. Para tanto, torna-se necessário que as organizações e a própria sociedade se pautem pela democracia e pela participação, pelas quais diferentes interesses podem possibilitar a negociação e a construção de outros mundos.

Porém, lamentavelmente, nos anos recentes temos nos defrontado com um retrocesso nos espaços públicos e privados do país, que tentam sufocar as manifestações que se pautam pela afirmação das diferenças e diversidades. É um retrocesso que afeta a própria democracia ainda incipiente no Brasil. Soluções de força e truculência propostas para “resolver” conflitos são emanadas por representantes do povo e por aventureiros de plantão que se utilizam da Internet para semear a desinformação e a desqualificação daqueles que buscam trilhar outros caminhos que não o da hostil relação autoridade x obediência.

Mas mentiras repetidas inúmeras vezes continuam a ser mentiras. E a sociedade civil vem reagindo a esse retrocesso e apontando que fora da democracia não há superação possível da atual crise que pressiona as instituições em geral e impõe sacrifícios adicionais à população, num país marcado por uma acentuada desigualdade.

O autoritarismo presente na formação do nosso país já produziu muitas mazelas e desigualdades para ser apresentado como solução daquilo que ele próprio cria. É preciso que a sociedade se recuse a repetir a farsa dessas escolhas da tirania e afirme cada vez mais que fora da democracia e da participação não há caminho válido.

Para os Administradores o espaço democrático representa não apenas uma oportunidade de melhor qualificar o exercício profissional na complexidade, mas também de se posicionar a favor de uma sociedade plural e diversa, na qual os diferentes são apenas diferentes e não inimigos a serem derrotados em uma guerra que não existe.

É por isso que este manifesto clama a que as instituições que representam os Administradores se posicionem em favor da democracia. O Conselho Federal de Administração, os Conselhos Regionais  e os Sindicatos dos Administradores precisam rejeitar firmemente essa tentativa atual de retrocesso e afirmarem que Administração sem democracia é tirania!

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Gestão sem limites

Gestão é tudo (SQN)*


Daniel Roedel**

No Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, é comum utilizarmos ao final de uma afirmação a expressão “só que não” (SQN). Trata-se de uma ironia que nega a certeza anterior e cria uma piada. Utilizei a expressão no título para abordar o tema da gestão que desde há alguns anos saiu dos estudos e debates da academia e das ações empresariais e entrou no cotidiano das pessoas em diversas localidades. Continue a ler

*Publicado em Blogue Shift

**pós-doutorando no ISEG da Universidade de Lisboa, doutor em Políticas Públicas e Formação Humana e bacharel em Administração

quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Pessoas, ambiente e economia

Dívida Pública e os limites da Sustentabilidade Socioambiental



Assista aqui a apresentação do tema no II Congresso Virtual Brasileiro de Recursos Humanos Sustentáveis e I Congresso Virtual Internacional de Recursos Humanos Sustentáveis, realizada no dia 25 de novembro de 2021.